bala perdida: Sugestões fílmicas de borla

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Sugestões fílmicas de borla

O comum viajante da internet que por aqui pára já se deve ter interrogado, decerto, sobre o que anda nas nossas cabeças para andar a chatear o pessoal com palavreado confuso, ideias idiotas e filmes chatos como a potassa (neste último caso, refiro-me aos poucos sortudos que puderam assistir às já lendárias projecções privadas do nosso tríptico i.s.a.a.c./silent night/português noir).

Passam-se filmes, na nossa cabeça, mas, às vezes, convém aproveitar o tempo entre pré e pós-produções a ver os que passam nos ecrans também. Remetido nestas últimas semanas ao meu refúgio na serra, tive oportunidade de pôr os olhos em alguns espécimes (até porque aqui na serra, não se faz nada, tirando umas caçadas aos javalis e ver como anda a horta). Entre ordenhar uma vaca e uma cabra, arranjei tempo para escrever aqui umas considerações sobre tais filmes. Quem sabe se sai daqui inspiração para mais um feature film da bala.

War of The Worlds (2005)
steven spielberg



Tommy Cruise, o anão mais alto de holywood, luta contra tripés articulados vindos do espaço. Um filme jeitoso, a começar por efeitos especiais decentes, que não parecem lá muito CGI (vantagem) e são usados em proveito da narrativa, nomeadamente nos primeiros minutos em que supostamente não se sabe o que está a acontecer. A sequência na cave do Tim Robbins é chata de caraças, e a míuda que faz de filha, também. O filme podia talvez alongar-se por mais uma meia horita, que não lhe fazia nada mal, construía-se um final mais conseguido, talvez explicar melhor o que aconteceu ao puto do Cruise enquanto andou desaparecido e documentar com mais pormenor a queda do exército dos tripés articulados vindos do espaço.

The Graduate (1967)
mike nichols



Um clássico do género "gajo que acaba o curso e não sabe muito bem o que fazer". Neste caso, a quarentona da casa ao lado encarrega-se de preencher o programa já se sabe com o quê. Quem não conhece o filme lembra-se da banda sonora, concerteza (simon & garfunkel - mrs.robinson, the sound of silence, etc). O Dustin Hoffman parece um bocado velho para ter 21 anos, mas dá bastante consistência ao papel, para não falar da Anne Bancroft - mrs.robinson - que foi uma espécie de ícone sexual para os teenagers inconscientes da altura. Um filme que vive bem com poucos diálogos e com a já referida banda sonora a desempenhar um papel crucial no encadeamento de sequências e planos.

Sideways (2004)
alexander payne



O início do filme faz temer o pior, porque, pela maneira como filma, Alexander Payne parece estar a realizar uma série qualquer de segunda para a televisão (olá TVI!) , ou até (heresia!) um telefilme. Depois vamo-nos apercebendo que este (não) tratamento dos planos e da própria imagem é intencional, na mesma linha que os seus filmes anteriores (about schmidt, election, citizen ruth). Esta especificidade do tratamento visual permite um relacionamento mais próximo e instantâneo (quase documental) com as personagens, justamente porque o filme trata basicamente da relação entre dois velhos amigos. E é um grande filme. Tem umas cenas hilariantes pelo meio (em contraponto ao tom neutro geral) que valem por si mesmas.

Cannibal Holocaust (1980)
ruggero deodato



Dizem que é o filme mais proibido de sempre, banido durante x anos no Reino Unido, para sempre, num país asiático qualquer, etc, etc. O que temos aqui afinal? Um filme muito violento e ainda mais explícito, dezenas de mortes (de pessoas e animais), violações, empalamentos, sexo e... canibalismo, claro. Às vezes parece um snuff-movie autêntico, tal o detalhe que as cenas apresentam. Deixando os histrionismos de parte, está aqui um filme muito bem realizado e montado, com um propósito muito bem definido e muito semelhante ao dos gajos do blair witch (que em termos comparativos levam uma abada do senhor deodato) - um falso documentário. E se o realismo totalmente conseguido das cenas mais violentas (ao ritmo de uma por minuto) nos deixa permanentemente numa posição desconfortável ao longo do filme, o objectivo era mesmo esse. O argumento encerra em si uma parábola moral, mas, como se percebe, não é isso que nos vai ficar na memória depois do fim. Concluindo, um filme para ver de estômago vazio.

The Birds (1963)
alfred hitchcock



Pássaros aos bandos atacam a população de Bodega Bay, uma cidadezita perto de San Francisco. Muito mais se poderá dizer, sobre as interpretações do que significam na realidade os pássaros, sobre a construção lenta e faseada do filme até ao clímax na cena em que Tippi Hedren é atacada no sótão, etc e tal. Mas o que mais me impressionou foi a ausência de uma partitura sonora, substituída apenas pelos sons dos pássaros. Com isto o filme ganha uma austeridade em crescendo que combina muito bem com o tom quase pré-apocalíptico do final. Passa a ser o meu filme preferido do Hitchcock, depois do Vertigo, Venham mais destes.

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