bala perdida: Children of Men (e uma achega ao 007)

sábado, novembro 11, 2006

Children of Men (e uma achega ao 007)



Devo dizer que desde que vi, e por ordem de grandeza, o 2001 Odisseia no Espaço, o Blade Runner, e o A.I., não via um filme de ficção científica que me fazia remexer tanto na cadeira como o Children of Men. Dois terços da equipa BALA tiveram o privilégio de na mesma sessão ver, aquilo a que numa linguagem vulgar, se poderia denominar “um filme do caraças”, e foi. Mesmo. O filme é protagonizado pelo Clive Owen, esse actor que já foi o “ex-próximo James Bond” até alguém olhar para o Daniel Craig e achar que este tinha uns olhos mais, sei lá, azuis.

Por falar nisto, aproveito para abrir aqui um parêntesis sobre o universo Bond. O Rei Artur não se meteu nesse mundo, renunciou – ou ficou privado, não sei bem – de guiar BMW´s topos de gama, filmar em praias paradisíacas e, o mais importante, ter relações – fictícias claro – com mulheres oriundas de laboratórios de manipulação genética – porque esta é a única explicação possível para encontrar seres humanos perfeitos, daqueles que aparecem nos 007´s – o Clive Owen acabou por ser beneficiado, e isto não é uma piada relacionada com o facto de ele não vir a receber milhões de dólares para fazer as coisas acima mencionadas, é simplesmente uma constatação do simples facto de que a personagem fica para sempre, ou pelo menos durante muitos anos – inevitavelmente agregada ao actor. Perguntem ao Pierce Brosnan. O gajo vai ser o 007 até ter 90 anos. Um bocado como o Sean Connery que já deve andar lá perto, e ainda há quem o chame de “agente secreto”. A questão é simples e depende de como se encara a profissão (de actor). Se um tipo acredita verdadeiramente na arte nobre da representação e quer construir uma carreira com base no desafio sucessivo e permanente que é o de conceber uma personagem a partir de um guião que lhe é entregue, filme após filme, ou se é do tipo que encara a profissão como o Tom Cruise que pensa que ser actor, é “sorrir e decorar umas falas enquanto se faz uns telefonemas”. “E ser burro”. Ia-me esquecendo desta última. Sem querer fazer juízos partidários de valor, até porque podia cair no ridículo de estar aqui a defender a Representação ao invés de optar pelo caminho do Demónio, que inclui Mulheres, Dinheiro, Carros, Coca e alguma Luxúria, que acaba por ser a vidinha do 007 – da personagem e do actor – quero somente expressar o meu apreço por ver o Clive Owen “recusar” este mundo do Demo porque, afinal é um gajo que acredita na sua profissão. Se eu fosse actor, tenho que admitir, optava pelo Demo. Disse.

Voltando ao filme “do caraças” Children of Men, que foi adaptado e magnificamente realizado por El Alfonso Cuarón e que, para mim, fez uma excelente escolha ao entregar este papel ao Clive Owen. Não sendo uma performance excepcional, faz realmente um belo papel, e mostra a quem tinha dúvidas e não viu o Sin City, que sabe representar. Claro que teve a, bela, ajuda Julian Moore que infelizmente não é muito prolongada, mas que nos minutos em que habita a tela, é simplesmente maravilhosa e espalha aquela sensibilidade erótica, que faz um tipo pensar se vale a pena casar com outra mulher que não ela. Além destas duas pérolas há um conjunto de personagens secundárias que são fundamentais para o desenrolar da intriga, e que são, também elas, muito bem interpretadas. Desde o hippie-performance-maravilha-do-M.Caine de 65 anos que vive na floresta até à refugiada cigana que dá uma mãozinha aos protagonistas, passando por um grupo de refractários que têm uma revolta prestes a implodir liderada pelo Chiwetel Ejiofor (sim fui copiar o nome ao IMDB por razões óbvias) que tem dado mostras de ser um gajo que “dá uns toques” no que toca à representação.

Tudo isto em Inglaterra num futuro próximo. A premissa consiste na impossibilidade das mulheres conseguirem engravidar, e por isso a sobrevivência humana estar em risco. O filme começa em Londres, com a tecnologia uns furos acima da de hoje, os automóveis futuristas estão muito bem caracterizados - não há extravagâncias do ponto de vista estético - e existe uma intenção de apresentar um futuro sujo e caótico, assim como o resto do cenário urbano que é inteligentemente limitado, devido certamente a restrições do orçamento, mas que por isso mesmo, obrigou a encontrar soluções pragmáticas como, por exemplo, a opção de filmar grande parte do filme com a câmara ao ombro. Isto que agora anda muito na moda, mesmo em filmes de grande orçamento, e estou a lembrar-me do Missão –Impossível-3-camera-man-com-doença-de-parkinson, que teve um resultado lamentavelmente desastroso. Aqui isso funciona na perfeição, e ajuda bastante a dar a sensação de realismo, devido também à própria natureza do filme, que acaba por ser uma fuga contínua em espécie de perseguição por um bem maior, que possivelmente seria a salvação para humanidade.

Depois há que dizer, o filme tecnicamente anda muito perto da perfeição. Os efeitos especiais são tão bem usados e concebidos que fazem o que, em primeira instância foram inventados para fazer, tornar, neste caso, o futuro credível. Nada de aberrações gráficas produzidas em massa à toa, só porque alguém da produção se lembrou de comprar o Maya ou o 3D Studio. Porém o que o filme tem de melhor são os planos sequência. Porque todos estes elementos acima mencionados conjugam-se na perfeição criando sequências fantásticas de puro cinema, em que coabitam representações muito acima da média, enquanto se assiste a um desenrolar da acção que é quase sempre surpreendente, aliado a uma fluidez de câmara excepcional, tudo isto afinadíssimo na pós-produção, com o acrescento – que neste caso, como já tinha dito, é isso mesmo – de efeitos especiais pontuais. Alguns eram pró-estéticos ou executados no local, o que amplificou ainda mais o nível de dificuldade da rodagem, e que valoriza bastante o filme.

Pena que acabou tão rápido. Fico à espera que este final de ano traga mais alguma maravilha cinematográfica e estou a falar mais especificamente em alguns objectos que tardam em aparecer neste paízola operário-burlesco, como os novos filmes do Aronofsky do Richard Kelly e o do Iñarritu (The Fountain, Southland Tales e Babel, respectivamente). E claro, o da Sofia Cópula que apesar de já ter estreado em território luso, ainda é preciso gastar quase 15 contos para ir vê-lo – no caso de não se viver numa das duas grandes áreas metropolitanas – que corresponde à despesa de pegar no veículo e pagar as portagens e gasolina para ir e vir (e ver o filme no entretanto).

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5 Comments:

Blogger Kowbunga said...

Hey Hey... Adivinha quem voltou yo yo... Pois é, isto de trabalhar na Bala é tramado pois de quando em vez o trabalho aperta e obriga a malta mais fixe da produtora a isolar-se e a ter daqueles brainstormings de pé-na-bacia-com-água-e-secador-a-funcionar-lá-para-dentro...
Mas estou de volta e junto-me aos outros dois membros da reputadissima produtora para mandar bitaites e coisas que tais!
Fazendo parte orgulhosa dos dois terços que foram ver o filme só posso dizer, tal como diriam os nossos colegas que habitam lá no Paris França (a Bala nunca se esquece que Portugal não é só cá dentro, pois há Portugal também lá fora) "Putain, Oohh lálá, Sacré bleu, c'est bon ce film quoi, Jean Manel vien ici ou je te bate na trombe!!!!"
O filme é bom, é muito bom, e é daqueles objectos cinematográficos que quase nos faz chorar de tão belo que é! Mais não vou dizer pois já está no post levado a cabo pelo dedinhos do Juanito no teclado do Juanito!

Agora quanto ao Clive Owen ter desperdiçado a oportunidade de guiar BMW's, isso ñ se pode dizer pois esse senhor já guiou tanto BMW que já devia ter um modelo com o nome dele - nas pequenas curtas financiadas pela BMW em que ele é sempre o actor principal!
O Sean Connery não tem, nunca teve e nem nunca terá 90 anos... O conceito de idade pura e simplesmente não existe para ele... Tenho dito!

De resto só posso dizer que aqui na Bala, todos continuamos a lutar para que os produtos que saem dos nossos estaleiros sejam o mais perfeitos possível... Obrigado por continuarem a ser nossos fãs e por nos seguirem... Se tiverem um tempinho vão até www.phive.org - há quem diga que o site tem pinta, também há quem diga que não tem, mas isso não é verdade!

Assinado - O gajo que esteve lá, voltou e agora só usa trousses de coton

segunda-feira, 13 de novembro de 2006 às 00:49:00 WET  
Blogger juanito said...

Pois, tinha-me esquecido que o gajo já guiou BMW's assim, durante uma carrada de filmes (mais do que o Daniel Querégue há-de fazer "under de name of double oh seven") e que os filmes por acaso até eram porreirinhos e até eram bem feitinhos, e até eram pequeninos, porque não deviam ter mais do que 10 minutos cada um. O que faz do The Hire, uma série de curta-metragens produzidas pela BMW, um fenómeno de culto cinematográfico-rodoviário, já que foram pagas pela empresa alemã, o personagem principal é o Carro BMW e o Actor Clive Owen (acho que um guia o outro). Tirando na curta do Guy Ritchie em que a personagem principal é uma tipa que tem 50 anos, tem elasticidade de uma de 15, canta e dança e faz filmes, e tem uma falha do meio dos dentes do meio. Assim a resvalar para o grandito.

Aproveito e felicito o Sid pelo regresso ao BLOG BALA, numa altura em que muitos pensavam que Sid Fagundes não passava de um mito, de uma invenção oriunda da minha cabeça e da do Mari (e acreditem que cabem lá muitas ideias) ele voltou e, quem sabe, qualquer dia ainda nos aparece aqui um post assinado pelo Sid em pessoa.

terça-feira, 14 de novembro de 2006 às 16:27:00 WET  
Blogger El Mariachi said...

Sid, o Homem de Ferro finalmente de volta ao espaço cibernético!

Uma coisa que não se via desde que aquele super-herói revestido a latão pintado de vermelho e amarelo se dirigiu ao site das amazonas para encomendar os volumes mais recentes da BD "os Vingadores" tendo em vista a resposta para a questão sobre se iria morrer num dos próximos capítulos das aventuras dessa super-equipa formada por guardiões do bem (este devaneio bdéfilo é dedicado ao el regresso de el Sid el Fagundes).El.

O que muita gente não sabe é que Fagundes el Sid descende dos Fagundes de Vila Viçosa, sim é isso mesmo, da mesma nobre linhagem de Arlindo Fagundes (seu primo em deuxieme grau), o guru dos ilustradores nacionais, que deixou a sua marca em sagas tão significativas como Uma Aventura, Viagens no Tempo (acho que era isso) e uma treta qualquer mística/esotérica que não pegou e foi cancelada ao quinto tomo, assim como a terceira série do Lost devia ter acabado ao quarto episódio antes de...

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SPOILER ALERT
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...matarem o mr.eko.

Por falar em matar e morrer, a Maria Antonieta não se teria dado ao trabalho de fazer com que a decapitassem se soubesse que o feature film da Sofia Cópula ainda não estreou em Coimbra. Fuck Lusomundo!, diria o Sid (o Vicious).

terça-feira, 14 de novembro de 2006 às 22:14:00 WET  
Blogger Kowbunga said...

Meus nobres colegas como é bom estar novamente junto de vocês e poder comparticipar da reinação que são as nossas pequenas tertúlias cinematográficas as quais começam sempre: "Sid, Sid olha que esse filme não é bom!! Sid olha que bom é aquele filme dos Versalhes acompanhado de guitarra eléctrica!" em seguida Sid desencanta das mangas como que por magia argumentos fabulosos e de fazer descair as queixadas até aos mais temerosos e diz assim... esperem vejam vejam que é demais... "Pessoal olhem que não, o filme é mau e eles nunca hãodezeo estrear em Coimbra porque o Sid não deixa!" (ter em atenção que o Sid adora falar de si na terceira pessoa) "Mais facilmente se corta a bobinezea do que o Sid deixar verzelea a perder a cabeça"! Então confrontados com estes poderosos argumentos, os outros dois membros da Bala apenas conseguem murmurar: "É verdade Sid, tu é que sabes e não vale a pena ir ver o filme, vamos é ver o 007 e o Souhtland Tales que tem o Da Rók!"

Ai ai, como eu adoro estes dias solarengos na companhia dos meus colegas de trabalho! É bom voltar a fazer parte da equipa, diz o Sid!!

quarta-feira, 15 de novembro de 2006 às 13:21:00 WET  
Blogger juanito said...

É bonito é ir ver a Kirsten Dunst a despir-se em frente a uma câmara de filmar, ainda que de costas e envolta em penumbra. Eu nem a achava nada de especial mas depois de ver como ela cresceu depois de andar com o aranha lá para os lados da maçã grande, confesso que até gostei, assim a modos que um bocadinho, do filme e da performance dela e de Versailles e dos jardins e dos bolos e dos vestidos e da música que, como toda a gente sabe é "do belo".

E se o filme fosse feito por portuguesas também tinha a sua piada porque a Raquel Freire podia trabalhar novamente com a Ana Moreira que podia interpretar o papel de Maria Antonieta. Até se podia fazer o filme ali no palácio de Belém, que fica mais pertinho e o ICAM poupava uns trocos.

sábado, 18 de novembro de 2006 às 00:05:00 WET  

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