bala perdida: 4 Pedaços de Filme

segunda-feira, janeiro 15, 2007

4 Pedaços de Filme



Os cinemas em Portugal têm a modos que dois períodos distintos que alternam entre si, sendo o período intitulado por mim, “filmes pouco dignos de se ver” mais favorecido pelos senhores que os escolhem, relegando para segundo plano os que deveriam de facto prevalecer nas salas – os chamados filmes “do caraças”. E refiro-me neste caso específico à marca de complexos de cinema avantajados que teima em reinar aqui na zona centro, e que infelizmente, vai eliminando uma a uma a hipótese de outros cinemas mais pequenos, sobreviverem. Não é necessário mencionar marcas, nem tão pouco nomes de filmes que se mantêm em cena à custa de montanhas de dinheiro estourado em marketing, ou sequer o nível cultural medíocre que leva as pessoas a irem ver uns filmes ao invés de outros – isso é uma questão que nos leva, obviamente, também além fronteiras. O que me interessa aqui é ressaltar o período excepcionalmente bom em termos de qualidade de cartaz apresentado actualmente. Parece mentira, mas é verdade – a Lusomundo finalmente brinda-nos com alguns filmes em exibição simultânea dignos de referencia.

Tudo começou quando estreou o último 007. Se por um lado a facção conservadora cedo se levantou e mostrou o seu desagrado ao defender que o 007 nunca poderia ser alourado, e muito menos ter um ar de “sacana” que o Daniel Craig transmitiria, por outro não faltou quem levantasse bandeiras de apoio ao novo agente secreto britânico – principalmente ostentadas por mulheres - quando viram no eleito a hipótese de verem um James Bond louro e de olhos claros - se bem que não seria a 1ª vez. Resultado: para mim que não sou grande fã do gajo – tanto do Daniel Craig como do 007, porque o seu desempenho no Layer Cake não mostrou nada de excepcional nem tão pouco o papel que o Spielberg lhe deu no Munique – fez-me repensar na essência do herói britânico. Se ao invés de ver aquela figura ridícula do Pierce Brosnan sempre penteado e de smoking impecável enquanto salta de um avião sem para-quedas e atravessa Moscovo dentro de um tanque a disparar mísseis e a ter relações sexuais com 38 tipas enquanto descobre a password de 230 caractéres que vai impedir que o Mr. Bad Guy Worst Then Hitler expluda o mundo e arredores, se ao invés disso me mostrarem um tipo com garra que se suja cada vez que apanha um pêro na cara e se mancha com sangue cada vez que anda ao banano com outro tipo, um gajo que seja verosímil do ponto de vista humano e tenha emoções, aí fico convencido e o novo James Bond não podia ter sido melhor escolhido. O Daniel Craig é fabuloso neste papel.

Claro que antes deste 007 já estava em exibição o Children of Men que já mereceu uma critica muito positiva aqui mais em baixo neste mesmo blog. O Prestige do Christopher Nolan foi uma agradável surpresa, porque não basta ter um elenco de luxo, é preciso saber usá-lo, e o filme acabou por ficar bem interessante – e como se não bastasse até o David Bowie apareceu a dar uma mãozinha. E a Scarlett também. Depois tudo se passou assim muito rápido e chegaram 3 filmes que logo à partida podiam aspirar ao título de “memoráveis”. Apocalypto, Flags of Our Fathers e Babel. Devo confessar que ainda não tive oportunidade de ir ver o filme do Inãrritu, mas conhecendo o seu percurso, e pelo que já me chegou aos ouvidos, é provável ser justo nivelá-lo com estes dois.

O Flags of Our Fathers, não sendo para mim o melhor filme do Clint Eastwood, é uma obra digna de referência encabeçada por três razões. A primeira é o uso dos recursos técnicos que haviam sido explorados por Spielberg – que também produz este filme – no Resgate do Soldado Ryan, e que o mestre Clint renova, acrescentando a esta linguagem as cenas aéreas vistas das aeronaves, claramente também elas inspiradas noutro filme – O Aviador, Martin Scorcese – que serve para dar outra perspectiva física da acção. A segunda é a dimensão pós-traumática que o Clint Eastwood enfoca ao mesmo tempo que alterna o ambiente festivo com o bélico, incutindo ao filme uma dimensão pura muito humana comum nos seus filmes. O terceiro motivo prende-se com o facto de este filme contar com um complemento de outro filme, rodado na mesma altura e que, apresenta o episódio do desembarque e a tomada da ilha de Iwo Jima, mas vista da perspectiva japonesa – uma ideia verdadeiramente genial. Os filmes são suficientemente autónomos para serem vistos como obras independentes, mas quem visualizar os dois, ganha uma outra visão que não é (ou pelo menos espero que não seja) perceptível quando se vê apenas um deles. No Flags of Our Fathers, o Clint Eastwood deixa já algumas pontas soltas ao longo do filme, para concerteza as reatar no Letters From Iwo Jima.

Por último mas não por ser o mais inconsequente, aliás, eu até acho que este filme do Mel Gibson, é bem menino de partir tudo o que se lhe opuser em termos de galardões e de criticas menos favoráveis, porque este Apocalypto é sem dúvida uma obra que vai marcar a carreira dele atrás das câmaras. Não sei se é por ter ido ver o filme há menos de 24 horas – ou seja ainda não tive tempo de perceber se o filme é de facto uma obra prima ou se não passa de um filme excepcionalmente bom – mas a verdade é que fiquei completamente rendido ao ambiente, à intriga, à acção, à representação e à realização. O Mel Gibson até nos brinda com aquelas câmaras lentas que capturam praí 300 fotogramas por segundo, e que põem um gajo a pensar se vale a pena voltar a vir ao cinema, se sabemos de antemão que vão passar aí uns 30 filmes até encontrarmos outras assim. O filme é assim uma coisa de extraordinário. Para mim é a melhor obra do gajo. Tanto o Braveheart como a Paixão de Cristo já tinham sido exercícios muito bons de realização, mas este filme é digno de se ver enquanto se faz continência a um novo mestre que se afirma de vez no mundo da realização. Espero, contudo, não o voltar a ver em frente a uma câmara.

Assim, há razões para sorrir neste início de 2007 enquanto se sai duma sala de cinema porque se sabe que o regresso aquela zona está para breve com tantas razões para lá voltar.

Etiquetas: ,

5 Comments:

Blogger juanito said...

Para a Malta que escreve aqui no Blog, antes de postar novamente, é preciso entrar no Blogger pela "nova conta", que é o mesmo que dizer pelo novo sistema que o Blogger usa numa aliança com o Google. Está explicado assim o facto de apenas aparecer o meu nick na zona dos colaboradores - não é uma tentativa minha de fazer um golpe de estado nem coisa parecida.

Vá-se lá saber porque é que o Google anda a comprar tudo o que é empresa que mexe na internet. Pode ser que qualquer dia apareça por aqui na redacção um contrato milionário para comprarem a BALA.

p.s. - esta mensagem é so para quem escreve posts aqui no blog, não para quem deixa comentários. Ah! E já agora fica prometido uma actualização mais regular do blog e uma nova imagem para breve.

See ya arround.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007 às 10:38:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

buenas noches!
Bem, no dia em que descobri que o Sr. Agente-Secreto-Britanico-Dois-Zeros-E-Um-Sete-Mais-Sexy-Do-Mundo-E-Arredores era Sadomaso até chorei! Aiiii tadito! foi aquele o momento que o obrigou a renascer! Aí é que ele descobriu o que era bom....E o Craig ajudou (se calhar alguma experiencia marcante...:/ ) mas confesso, apesar dos olhos azuis e cabelo louro, preferir o Sean Connery...talvez seja o ''scotish accent'' ... sao de salientar tambem as apariçoes de Brad Pitt (onde assume talvez pela 1a vez a sua.... maturidade...) e de Gael Garcia Bernal...aiai... bem mas esquecendo os atributos fisicos dos actores, concordo que 007 Casino Royale foi a rampa de lançamento das boas produçoes cinematograficas deste ano. Babel ta muito bom! quanto aos restantes, que quero muito ver, devem tar mt bons. Pelo menos assim o dizem as críticas ( e os Golden Globes)...*breve momento de divagaçao: bala perdida nos golden globes depois do contrato milionario com o google....hummm*
:)

hasta

terça-feira, 16 de janeiro de 2007 às 22:27:00 WET  
Blogger juanito said...

Essa última ideia parece-me bastante interessante: a bala nos globos d'ouro - os originais, não aquela festa para amigos que a Teresa Guilherme costuma dar de vez em quando e pede à Sic para ir lá gravar e até fazem um directo daquilo e acho que entregam umas estatuetas, e toda a gente aparece a sorrir porque alguém da produção vaporizou o auditório inteiro com óxido nitroso (o famoso gás hilariante).

Como ainda não tive oportunidade para ver o Babel, contento-me com a performance do Brad Pitt no 12 Monkeys em que mostrou que dava uns toques nisto de "representar", e depois a única coisa a fazer é ver de rajada os 2 filmes do Fincher em que o B.P. (olha que interessante tem as mesmas iniciais que a bala perdida) roça o "a modos que perfeito" em termos de performance.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007 às 10:59:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Cheira me que esse gas nao e oxido nitroso mas excesso de botox....aqueles pseudo jovens reluzentes como a tia lili....ai!... sem duvida que nao seria essa ''festa''!
fight club! dupla perfeita: norton e pitt!!...medo! ver de rajada os 2.... e..orgasmico! mt bons mesmo...
a ver se na proxima semana me aventuro no cinema para ver as novidades.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007 às 13:44:00 WET  
Blogger juanito said...

Entretanto lembrei-me de outro filme que estreou à pouco tempo e também tem o seu coeficiente de "porreiraço" que é o The Queen, com a Hellen Mirren. Não é por ela ter ganho um globo de ouro, acho que a interpretação é mesmo fabulosa, eu pessoalmente gostei especialmente do filme pela relação de cumplicidade implícita que vai crescendo entre a rainha e o Tony Blair (interpretado por Michael Sheen) que na altura tinha acabado de ser eleito 1º ministro e teve que servir como intermediário entre o conservadorismo da família real perante o povo inglês que, aquando da morte da princesa Diana, reinvindicava, nomeadamente, um tratamento mais nobre no seu funeral.

O filme é do Stephen Frears que depois do também "porreiraço" Alta Fidelidade (de 2000) com o John Cusack, parece que andava a alternar entre produções televisivas e cinematográficas. Depois de ver estes dois, por mim, escusa de fazer mais televisão, pode ficar de vez no cinema.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007 às 10:28:00 WET  

Enviar um comentário

<< Home