bala perdida: Inside Odete

quinta-feira, abril 27, 2006

Inside Odete


Desde o prazer que tive enquanto dei uma mirada no Alice do Marco Martins (o mito vivo do cinema português oriundo dos clips publicitários e que já trabalhou com o Wim Wenders) que não via um filme português tão bom como o Odete (devido também a não ter visto nenhum no intervalo mencionado digno desse nome). O Odete espantou-me pela honestidade como encara a homosexualidade. Será para o João Pedro Rodrigues, como ele próprio mencionou um melodrama. Eu apreciei o filme pela frieza e honestidade como mostra um ambiente underground que está directamente relacionado com a homosexualidade e cuja história deambula entre o amor e o desespero (às vezes a fronteira pode ser muito ténue). Acho que não era um melodrama, chamar-lhe-ia antes uma comédia negra com nuances de drama, mas o gajo lá sabe o que faz.
O filme começa com um plano muito próximo de duas pessoas a beijarem-se que depois se vai afastando, até que nos apercebemos que são dois homens a demonstrar o seu afecto um pelo outro. Nesta parte do filme (ou seja ao 2º minuto) já a sala estava com metade da audiência inicial. Depois um deles (o Pedro) tem um acidente e o Rui vai a correr, e assiste à morte do amado precisamente no seu primeiro aniversário enquanto casal (gay, obviamente). Depois aparecem umas letras grandes a dizer “Odete” e começa o (resto do) filme. A Odete é uma moça que trabalha no Le Clerque (não sei se é assim que se escreve mas o Mariache encarregar-se-á de me corrigir), e que anda de patins (o que por acaso até é uma falha do filme, porque é notória a dificuldade que a Ana Oliveira demonstra quando põe os seus pezinhos nas rodas e balança o seu belo traseiro pelos corredores atolhados de marcas que pagaram para ter a sua imagem no filme). Numa das suas viagens às pratelerias-atolhadas-de-produtos depara-se com roupa de bebé, o que desencadeou nela uma vontade imediata de ter o seu próprio rebento. Subitamente deixa de tomar a pílula e decide informar o namorado. Ele aceita mal a notícia, e discutem. A Odete diz-lhe para ele ir a um sítio longe e feio (aquele que nós sabemos), diz-lhe que ele é filho de uma prostituta e expulsa-o de sua casa. Ele extremamente desgostado foge e não dá mais notícias. Ultrapassados os 10 minutos de filme, já a plateia que estava lá fora se devia estar a roer de inveja porque entretanto a Ana Oliveira tinha mostrado parcialmente o peito e o traseiro (desta vez sem roupa). Depois a história desenrola-se de uma maneira muito bizarra, mas muito consistente que nos põe em contacto com, por um lado, a dor de alguém que perdeu o seu amor, e por outro com outra que procura desesperadamente maneira de encontrar um sentido para a sua vida, arranjando um filho. A obsessão é um elemento fulcral em Odete e é aí que reside a comédia negra. As cenas bizarras no cemitério, podem ter um conteúdo dramático para uns, e cómicos para outros. Para mim foi uma agradável surpresa ver um filme português que não procura intelectualismos disparatados em planos de 10 minutos com “ondas do mar a bater sabe-se lá onde”.

Deixemos o síndrome “Manoel” de lado e comecemos a consumir película portuguesa à bruta a ver se o ICAM começa a abrir os cordelinhos à bolsa e se decide a apoiar os novos valores que se erguem no cinema português (nós, claro). Para acabar é de referir que a par com o Alice também o Odete representou Portugal em Cannes no ano passado na quinzena dos realizadores (o que valeu uma viagem ao sul de França ao João Pedro Rodrigues e o prémio ao Marquinho).

Uns dias antes de dar uma vista d’olhos ao mencionado Odete dirigi-me ao centro de consumo massivo (lusomundo - dolce vitta) para visionar a última obra do Spike Lee. O filme intitulado “Inside Man” tem como pano de fundo uma Nova Iorque pouco comum nos seus filmes que habitualmente nos mostra uma perspectiva de uma classe baixa ou média-baixa oferecendo-nos sempre um suburbano característico, ao contrário deste que nos leva directamente para downtown, onde se concentra grande parte do tráfego financeiro. É precisamente aqui, num banco que é assaltado por um grupo de pessoas encabeçadas pelo Clive Owen, que a história se desenrola. A primeira meia hora de filme, infelizmente, padece do sindroma “Bruckeimer”, que consiste em conjugar planos em movimento (travellings a mostrar a rua, o banco ou outra coisa qualquer) com uma música irritante estilo sinfonia de filme épico (ritmo manhoso e desadequado à acção – naquela altura ainda embrionária).

Passados os 30 minutos iniciais, o filme começa a ganhar interesse, quando se começa a perceber que o assalto ao banco, apesar de parecer inocente no início, foi planeado ao milímetro. Depois começa-se a perceber a mão do Spike (nesta altura já completamente desprovido do síndroma à pouco referido) que tem como dedo grande a inevitável (comum na sua obra) alusão ao racismo e intolerância étnica que neste filme, na minha opinião, é exageradamente explícita. O argumento vai ganhando profundidade e interesse narrativo, à medida que se vai intercalando a acção presente com flash forwards, revelando aos poucos a verdadeira intenção do assalto e as artimanhas que os assaltantes usam para confundir os detectives (comandados por Denzel Washington e Wilam Dafoe). Depois há lá umas tretas que têm que ver com o nazismo e com ouro roubado aos judeus que é pura palha. Resumindo é um filme que não é mau, mas que foge claramente à tendência Spikeniana e das histórias com um conteúdo de natureza diferente, com uma crítica mais refinada. Neste a refinação ficou no início e o gajo impinge-nos um “os ricos são maus e os pobres não” directo que cai um bocado mal no estômago a quem vai na expectativa de um filme ao nível do Malcom X ou de um Summer of Sam.

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5 Comments:

Blogger El Mariachi said...

o supermercado chama-se, passe a publicidade e entre mais dinheiro de endorsement para a BP, E. Leclerc, o continente das províncias onde ainda não chegou o serra shopping. não pude ir ver o filme, mas numa revisão do alice, o final não é assim tão mau como tinha pensado da primeira vez, até porque à segunda, um gajo tá-se um bocado a borrifar pra questão da narrativa. força marquito e força ana cristina do belo traseiro.

quinta-feira, 27 de abril de 2006 às 17:15:00 WEST  
Blogger Fil said...

Bem...heee, dois gajos aos beijos...heeee...
Mudando de asunto, gostei da barrinha que se mexe é animada e colorida, ao contrario dos txt, lol, já agora quem é o senhor mais a direita ??? Tenho a vaga sensa. que o conheço ou não.
Ai de mim! Estou perdida!!!
Ciao

sexta-feira, 28 de abril de 2006 às 03:23:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

amused!!!

sexta-feira, 28 de abril de 2006 às 17:37:00 WEST  
Blogger juanito said...

Rózé, caso não tenhas reparado (e sinceramente custa-me dizer isto) o blog tem andado a perder aficcionadas femininas devido ao teu período de jejum aqui do blog (elas não gostam de ver um tipo sofrer então, recusam-se a vir cá).

Ou seja deixa de ser gay (que é o mesmo que dizer deixa de ouvir Coldplay) e volta à casa que te viu nascer para o mundo mágico dos "fazedores de cinema" (que é o mesmo que dizer a BALA PERDIDA).

"e...e... é jóne... não vou nada... vocês depois gozam com o meu banner... e... e... eu não posso ouvir ninguém dizer mal do banner... que depois fico bué triste... e... e... acho que posso começar a chorar e... e..."

sábado, 29 de abril de 2006 às 04:57:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

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quarta-feira, 25 de abril de 2007 às 14:26:00 WEST  

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