bala perdida: Beowulf 3D

quinta-feira, novembro 22, 2007

Beowulf 3D


Hopkins conspira com Beowulf, em ambiente 3d, como gamar o ouro a Zemeckis

Robert Zemeckis, o criador da trilogia infanto-juvenil mais fixe dos anos 80, o Regresso ao Futuro, parece andar, nos tempos de hoje, distanciado de qualquer contacto mais íntimo com a realidade. Frequentemente Robert Zemeckis é visto nos arredores da sua casa a dialogar sozinho, e a questionar os degraus de acesso à piscina, como é que perdeu o jeito para a coisa. Desde já, fica uma palavra de amizade e de incentivo profissional para com o outrora quase genial, Zemeckis: deixa o cinema e dedica-te à pesca submarina.

Numa altura em que se fazem filmes de bradar aos céus, usando a tecnologia informática em prol de uma valorização qualitativa de um argumento, Sin City de Robert Rodriguez, 300 de Zack Snyder e, o inevitável Senhor dos Anéis de Peter Jackson, aparecem estas descontroladas maluqueiras cibernéticas de Zemeckis como Beowulf. Beowulf é basicamente um catálogo que serve para explorar, de uma forma bastante assumida, o potencial, ainda algo limitado, de uma forma diferente de consumir cinema: a tecnologia de visualização 3d (com o auxílio dos magníficos óculos de massa grossa à Woody Allen). De imediato há 3 questões fundamentais que se levantam, mais pertinentes ainda do que a questão da existência de Deus, ou do mau feitio de Scolari: “mas porquê chamar a isto um filme; porquê pagar 7 euros para o ver; e terá Zemeckis enlouquecido?”

No abstracto o filme tem praticamente todos os ingredientes para ser um bom produto cinematográfico, se nos alhearmos à partida que depende da projecção com efeito tri-dimensional, que apenas está disponível em alguns cinemas. A começar pelo enredo, que é baseado num poema histórico escrito por um desconhecido, mas que parece ter influenciado Tolkien na sua obra prima, passando pelos actores, Anthony Hopkins, Angelina Jolie, John Malkovich, e o menos conhecido, Ray Winston (papéis maioritariamente secundários como em Rei Artur e Cold Mountain), a acabar (e porque não) no próprio realizador (Zemeckis) que infelizmente, além de ser bastante provido na arte ancestral de caçar pardais, anda igualmente a perseguir o sonho de destruir o crédito adquirido em produções interessantíssimas como Quem Tramou Roger Rabbit?, Regresso ao Futuro e aquele que deveria ter sido o seu último filme, Forrest Gump.

À parte de tudo isto, existe a vontade avassaladora de Zemeckis em criar “algo novo” usando “tecnologias do futuro”. Zemeckis não sabe, mas o valor real de um filme não se baseia na quantidade de tecnologia usada para a sua produção, mas sim na coerência do produto final. Este infeliz Beowulf existe, apenas e só, para mostrar que é possível fazer um filme em 3 dimensões usando sensores corporais e pondo 1 milhão de gajos a trabalhar em texturas de pele humana que em cada centímetro quadrado têm mais pormenores do que o projecto de execução do Guggenheim de Bilbao. Todavia grande parte da população mundial que habita em países desenvolvidos, já viu o Senhor dos Anéis e a maravilha digital intitulada Gollum, e claro, os filmes da Pixar e da Dreamworks. Consequentemente é do domínio público que, sim, é possível fazer filmes extra-ordinários em 3d. Zemeckis é o único ser humano à face da terra que ainda desconhece este facto.

Para acabar, ficam aqui alguns conselhos de amigo, para o amigo Zemeckis:
1) Zemeckis, dedica-te à pesca submarina e, quando estiveres lá no fundo, experimenta tirar o tubo que liga aí à garrafa que tens às costas;
2) agora mais a sério,tiras umas férias em África, deixas o GPS em casa e aventuras-te numa travessia solitária ao Sahara, a pé, para mostrar que definitivamente és mesmo um gajo que gosta de “desafios”;
3) tenta atravessar os Estados Unidos pela Estrada 66, de Los Angeles até Nova Iorque de Smar
t, em contra-mão, enquanto lanças foguetes dentro do carro para comemorar os 25 anos da estreia do Back to The Future;
4) constrói um DeLorean e viaja até ao futuro, para verificares que, o que andas a fazer, mais cedo ou mais tarde, te vai atirar para o desemprego de vez; aproveitas e ficas por lá a divagar em Washigton onde, por essa altura, há um atentado de 4 em 4 segundos;
5) ou então esquece tudo o que está escrito atrás, e voltas a escrever outra trilogia, tipo Back to The Future, mas mais fixe ainda, e protagonizada pelo forever young, Michael J. Fox (mas deixas outro gajo realizar).

Zemeckis em 3 dimensões. 3000 mil anunos do M.I.T. trabalharam neste modelo digital durante 15 anos.



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14 Comments:

Blogger El Mariachi said...

hipotese 3), por favor! e rápido.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007 às 17:53:00 WET  
Blogger Sandman said...

Zemeckis sempre foi um realizador claramente experimentalista, no que concerne à utilização das tecnologias de ponta do cinema, facto bem patente, aliás, nos filmes que mencionaste.

Em vez de lhe tirar o mérito por ter feito um filme deste calibre, prefiro considerá-lo uma espécie de visionário, por ter a coragem de se lançar em projectos destes, e por saber tirar todo o partido daquilo que se pode fazer na área da experimentação visual.

Em termos de animação o filme sofre, em algumas passagens, de um certo efeito de artificialismo. A tecnologia 3D já está suficientemente avançada no que refere à qualidade visual, mas ainda está algo perra na animação de personagens propriamente dita (alguns movimentos eram claramente artificiais - aqueles movimentos impossíveis de recriar com os actores no estúdio). No entanto, e para considerarmos o reverso da moeda, temos que considerar que Zemeckis preocupou-se em oferecer-nos - mais do que uma simples montra de efeitos visuais avançados - uma história de qualidade, adaptada por pelo menos um autor de qualidade (Neil Gaiman, não conheço o outro). O poema épico Beowulf merecia uma transposição para o cinema, pelo peso histórico que possui (e tendo em conta tanto lixo literário que se vai adaptando aqui e ali), e essa adapatação não esteve a cargo de incompetentes; a história tem ritmo, tem várias leituras, e tem algo que me parece ser de extrema importância: pode ver-se a vários níveis, seja como simples filme de acção em contexto semi-histórico, seja como reflexão ancestral dos medos e vaidades (o que de nobre e bom temos, ou o que de podre nos consome)humanas. Claro, também há o nível da Angelina Jolie maravilhosamente digitalizada, mas não entremos em delírios sexuais sobre um monte de pixeis.

Curiosamente, não percebi muito bem qual o motivo pelo qual não gostas do filme. É por ter sido feito em 3d? (já agora, não achas que uma história destas com actores de carne e osso passaria a ser apenas mais um filme do género, sendo que o meio com que o filme foi feito serve para o destacar?). Achas que não vale a pena investir em tecnologias destas, só porque o Gollum já foi feito (e muito bem, diga-se)?

Acredito que este filme é uma tentativa, com algumas imperfeições - como todas as tentativas iniciais - de fazer cinema de uma forma diferente, e que a tecnologia desenvolvida para o filme poderá servir outras histórias de formas que nem me atrevo a imaginar, e à luz deste pensamento, fazes-me lembrar um pouco a reacção da Mina, no filme "Dracula" do Coppola, naquela cena em que estão a ver o cinematografo, e o conde enaltece a nova tecnologia que está a despontar. "How can you call this science? Do you think Madame
Currie would invite such comparisons?".

segunda-feira, 26 de novembro de 2007 às 12:17:00 WET  
Blogger juanito said...

Caro amigo Sandman, o objectivo do meu texto afasta-se deliberadamente de um fio condutor que tenha por base uma lógica linear. Uma opinião pode ser expressa de inúmeras formas, e interpretada, também ela, por um número infinito de perspectivas, mas que sempre serão subjectivas e, acima de tudo, questionáveis, mesmo quando (ou principalmente quando) se tem a bíblia, ou o al corão, do seu lado.

O texto em questão procura, muito mais do que esclarecer um ponto de vista, ilustrar perguntas e abrir espaço à divagação nem sempre fundamentada em bases sólidas - a ironia moderada e o sarcasmo ocasional do texto tiveram aqui a sua origem.

Zemeckis procura frequentemente algo na tecnologia que, porventura, lhe faltará no âmbito de uma criação artística mais profunda. Não obstante, a tecnologia é uma área fundamental para o desenvolvimento do cinema contemporâneo - quando Lucas filmou a segunda (primeira) trilogia Star Wars em digital, abriu um precedente que mudará inevitavelmente a história do cinema - a película sucumbirá em definitivo ao digital. Ou a evolução inacreditável das tecnologias 3d que, cada vez de uma forma mais realista e credível, estimula construções estéticas cada vez mais apelativas. O que me parece redutor é partir exactamente deste ponto para construir um filme. Basicamente Zemeckis parece ter ido à procura da história que lhe parecia mais favorável, de modo a poder usar o arsenal de tecnologia que lhe foi posto à disposição. O Beowulf parece um catálogo no qual é explorado o potencial de uma tecnologia que, basicamente, é uma forma alternativa de consumir cinema.

Sinceramente achei o filme desprovido de interesse em relação a uma narrativa que poderia ter sido explorada de uma forma muito mais intensa e dramática. Tirando a cena final com o dragão que está tecnicamente extraordinária e é um remate muito mais valioso que qualquer outra passagem, o filme vive apenas da masculinidade de Beowulf, e da feminilidade da Jolie. Inclusive os actores não imprimiram genuinidade suficiente na interpretação das vozes das personagens. Mas isto, claro, é apenas a minha opinião.
Zemeckis é o criador da trilogia juvenil mais fixe dos anos 80 e, infelizmente, além de Forrest Gump (obviamente num âmbito diferente), não voltou a atingir o mesmo padrão em termos de qualidade artística.

Seja bem vindo ao blog!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007 às 21:51:00 WET  
Blogger El Mariachi said...

Bem. Eis que, sem aviso prévio, sobe o nível deste pasquim que tenta passar por um fanzine de informação e crítica, essencialmente, cinematográficas, quando no fundo não é mais que o Jornal do Clube de Fãs de Mário Augusto.

Distanciando-me da polémica "Beowulf é fixe vs. Beowulf não é fixe", filme que não vi nem me proponho a ver durante os próximos tempos, não resisto a deixar a minha opinião sobre a questão levantada pelo Sandman na parte final da sua mui interessante prosa (que, sendo interessante, não deixa de ser criminosa, por tentar defender o indefensável, ou seja, os filmes do Zemeckis pós-Regresso ao Futuro, Forrest Gump incluído). Não me considero um "purista" do cinema (penso que o Jóne também não) e sou capaz de aceitar os ecrâs verdes (e há uns azuis também, ao que parece) e a utilização do 3D. O que era do cinema clássico dos 40s e 50s sem estratagemas como o "matte painting", que simulava belas paisagens a perder de vista no horizonte através de grandes tarjas pintadas no fundo dos planos, em westerns ou até em filmes do Hitchcock (acho que nos Pássaros há uma cena em que se topa bem isso)?

O problema principal na utilização destas novas tecnologias reside, quanto a mim, no facto de o 3D não estar ainda a um nível de desenvolvimento minimamente decente (recordando o que o Sandman disse, mas acentuando a parte do perro). Na maior parte dos casos, o recurso aos blue/green screens e à simulação desenhada por computador deve-se a motivos económicos: é muito mais barato pagar a uma malta porreira com uma boa "render farm" para criar um cenário e umas explosões virtuais do que construir esse cenário em escala real 1:1 e mandar pra lá uns duplos malucos que não se importam de pegar fogo e, antes ainda, ter de ensaiar isso tudo. A maior parte das médias-produções americanas (e de outros lados também começam a surgir tendências semelhantes), se têm uma sequência de acção, ou querem uma cena mais arrojada visualmente (geralmente para distrair o espectador de um argumento inconsequente) vai de botar 3D naquilo! Vêem-se 3 ou 4 filmes desses e sabemos logo a parte que é construída digitalmente porque todos usam o mesmo filtro standard (e caríssimo) "Sujidade de Película" para tornar (supostamente) convincentes os videos renderizados do 3DStudio, Maya, Rhino, ou o programa de preferência. Mesmo nas grandes produções como o Spiderman (o primeiro, o único que vi) ou o Matrix, a maior parte dos "efeitos especiais revolucionários" tão propagandeados à altura, a mim só me lembram "gráficos de jogos de computador de 1998".

Consideraria como excepções filmes mais dados à fantasia como a trilogia Senhor dos Anéis, porque mexe justamente com um mundo físico que não existe de todo e em que há mais liberdade para criar "coisas" novas e inverosímeis, até (materiais, texturas, paisagens). Porém, mesmo aqui houve muita massa gasta em adereços reais (vegetação que teve de crescer não-sei-quantos anos até poderem começar a filmar o filme, um número estúpido de cotas de malha verdadeiras, etc), o que dá ao filme um ar mais terreno. Depois há filmes remediados como o coreano The Host, que sabem não fazer depender o argumento de um efeito especial e, quando o mostram em cena, é porque têm a certeza que é convincente (e é).

Para terminar esta dissertação de mestrado, nada como exaltar o melhor filme de ficção científica dos últimos tempos, Children of Men, que, acredite-se ou não, não precisou de artifícios virtuais (nos extras do DVD diz um gajo qualquer "this is not a blue screen movie", como se fosse um género em si) para construir uma imagem futurista deprimente, decandente e absolutamente credível.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007 às 23:58:00 WET  
Blogger El Mariachi said...

Ah, filmar o filme. Que bela frase!

terça-feira, 27 de novembro de 2007 às 00:00:00 WET  
Blogger Sandman said...

Sabes, Juanito, não pude deixar de me recordar, quando estava a ler a tua resposta, daquela altura em que apareceram os filtros da alien design para o photoshop, mais particularmente o eyecandy, com a opção de inserir sombreado na selecções da imagem: de um momento para o outro, foi só o que se viu em termos de imagens e paginação gráfica (digital ou em papel), sombras, sombras e mais sombras. Tanto que o efeito rapidamente passou de moda e passou a ser reflexo de amadorismo em design.

Exagero, é do que falo. Quando algo novo e extraordinário aparece, há sempre exagero. Deves decerto ter reparado na forma como Zemeckis posicionava e movimentava a câmara, no Beowulf (principalmente no início do filme), de forma a termos sempre um objecto (uma vela, uma lança, uma mão, até um rato a ser capturado por uma águia) no imediatíssimo primeiro plano da imagem, de forma a ilustrar as potencialidades da tecnologia.

É uma montra tecnológica, pois bem, é natural que o realizador tivesse alguma preocupação em mostrar-nos - ou deverei dizer escarrapachar-nos nas trombas - as potencialidades do media. Claro que foi à procura da história que melhor servisse o meio em questão, da mesma forma como já se fazia no cinema mudo, em que se procuravam histórias ou cenas em concomitância com as potencialidades e limitações da tecnologia vigente. Zemeckis poderia ter optado por uma abordagem realista - a transposição do Ulisses, de Joyce, não o outro épico, se bem que até era capaz de ser engraçado - ou talvez a Montanha Mágica, do Thomas Mann. Mas olha que, por muito boas que possam ser estas histórias, ninguém teria paciência para ver um filme em 3d com um bando de gajos enfiados num sanatório numa montanha a discorrerem infindavelmente sobre o sentido da vida.

Apreciei particularmente a cena final com o dragão, que mencionaste. E agora acompanha-me neste raciocínio: se Zemeckis tivesse optado por filmar com personagens de carne e osso, o que inevitavelmente daria outro tom ao filme - quiçá mais dramático - esta cena iria destacar-se negativamente do resto, justamente porque teria de ser totalmente construída em 3d, mostrando uma artificialidade não presente no resto do filme, e sofrendo das limitações que o 3d possui. Assim como está, pelo menos está em harmonia com as imperfeições anteriores e posteriores, não destoa, e até acrescenta um ooomph ao filme.

É uma tecnologia nova, mas já extremamente apurada, diga-se. Compara este filme com o Final Fantasy, por exemplo, e repara o quanto a tecnologia cresceu. Poderia existir um, se o outro não tivesse existido? Poderia existir um Forrest Gump sem os efeitos visuais (falo particularmente das pernas - ou falta delas - do tenente Dan)?

Quando uma coisa destas aparece, é como as sombras no photoshop: primeiro são usadas a torto e direito, sem grande cuidado estético ou discriminação; depois é que passamos aos assuntos mais sérios, e vemos a tecnologia a ser usada selectivamente, de uma forma inteligente, a servir uma história, em vez de se sobrepor a ela.

terça-feira, 27 de novembro de 2007 às 02:41:00 WET  
Blogger Sandman said...

Mariachi, creio mesmo que deverias ver o filme - mesmo tendo uma opinião à partida desfavorável - quanto mais não seja para poderes experimentar em primeira mão, e da única forma como isto se deve experienciar (tela do cinema, pois claro) um filme com a mais recente tecnologia 3d. Isto porque não sei se as versões em DVD vão usufruir desta vantagem (Beowulf será claramente uma animação ligeiramente acima do mediano, sem este artifício), apesar de estar a torcer para que sim (isto só porque os óculos foram caros, se só os puder utilizar uma vez por ano). Consta que vai sair uma versão 3d do Estranho Mundo de Jack, de Burton, e será interessante ver como fica, mas não tenho certezas.

Tens razão em algumas coisas que dizes, mas simultanemanente não tens. Senão vejamos: é verdade quando dizes que se usa e abusa desta tecnologia; a tentação é demasiado grande, e para quê gastar não sei quantos milhares para criar uma explosão de 400 quilotoneladas real, quando podemos simplesmente inserir digitalmente uma explosão de 400 megatoneladas, e aplainar a paisagem circundante? Com efeito, parece que tudo o que é realizador medíocre julga que uns quantos efeitos visuais mais rebuscados podem mascarar histórias banais, e por vezes até os consagrados caem nestas esparrelas.

Por outro lado, convenhamos que um filme rege-se por constrangimentos temporais e por aspectos essencialmente práticos de minimizar os custos e maximizar os lucros. É triste, mas é a realidade: construir um cenário real com duplos para mandar pelos ares, e depois aquilo não correr bem na primeira tomada (ou alguém se magoar seriamente) é muito complicado, e nem sempre há tempo ou dinheiro para fazer tudo de novo, sem se ter a certeza que vai correr bem da segunda vez. O digital resolve isso, pelo menos.

Recordo-me aqui de um comentário do James Cameron, que disse que quando estava a filmar o Exterminador Implacável (o primeiro), a equipa perdeu semanas a construir a miniatura exacta do camião que explode no final, só que a explosão não saiu como o realizador queria (vi uma fotografia dessa explosão, e realmente estava fraquinha). Resultado: quase não conseguiram montar outro camião, à pressa, para fazer uma segunda tomada. E ele a dizer, aliviado, que felizmente a segunda tinha sido exactamente como queria, senão...

Mais recentemente, li uma entrevista a um dos directores de uma companhia de efeitos digitais, que disse que, no que refere a explosões, etc, se for para fazer só uma, mais vale optar pela abordagem realista: fica mais barato, e melhor em termos visuais. Mas, se um filme tiver várias cenas do mesmo calibre, então o recurso aos efeitos digitais pode reduzir consideravelmente os custos.

Para terminar, resta-me concordar contigo: "Filhos do Homem" é realmente um dos melhores filmes de FC dos últimos tempos. Curiosamente, uma das cenas que mais me impressionou foi aquela passagem em que eles estão no carro e são atacados por pessoas, motas, etc. Repara nas movimentações da câmara, e vê que há ali digital, claramente. Era impossível fazer aquilo de outra forma. Acredito também que outra cena que me impressionou (a do combate de guerrilha urbana) tenha sido realizada com o auxílio dos mesmos meios, pela sua dimensão e fluidez, embora possa realmente ter sido filmada de uma vez só (e se foi, é de se tirar o chapéu - se não foi, também).

Ou seja, no meio de todos os fogos de artifícios visuais que tentam camuflar filmes medíocres, há sempre alguém que sabe utilizar esses mesmos efeitos de formas extremamente engenhosas. E são esses que devemos louvar, sem esquecer que os que lançaram as sementes, mesmo quando a tecnologia ainda estava na infância, e cheia de falhas, também devem ser lembrados.

terça-feira, 27 de novembro de 2007 às 03:08:00 WET  
Blogger juanito said...

Companheiros de discussão, recebi um mail de Zemeckis em pessoa que ajudará certamente a esclarecer a sua posição em relação ao digital, à sua falta (ou não) de vocação, e ao seu futuro.

"Dear Juanito,
Fiquei muito happy quando li o teu text: significa que alguém no mundo ainda se lembra de mim, nem que seja nessa longínqua província espanhola denominada Portugal, right?
Decidi seguir a tua suggestion e comprei umas aulas de mergulho com o intuito de enveredar pela pesca submarina. Quando estava down there, tive uma ideia brilhante. Fazer um Back to The Future, versão underwater, com um submarino movido a energia nuclear, em vez do DeLorean. Brutal, right? Em princípio, a história irá centrar-se na exploração da Atlântida (ou dos destroços do Titanic, mas o James já me copiou a ideia). Entretanto já falei com o always young Michael J Fox, e ele concordou em fazer, de novo, de McFly com 16 anos. Para fazer de McFly de 45, of course, teremos que o envelhecer com recurso a efeitos pró-estéticos ou mesmo digitais e. logo aí, gastar metade do orçamento. O tipo que fazia de Doc - que agora não me lembro o nome - também já está confirmado, assim como o Einstein (the dog) que, desta vez, será submetido a uma modificação genética para conseguir respirar debaixo da water.
Além disto, fui desenterrar o Bog Gale a Denver, onde se dedicava à carpintaria, e já o pús a escrever o script do Back to The Future - Back to Atlantis. O arsenal de tecnologia, como falaste Juanito, vou investi-lo nesta nova maravilha digital que, vais ver, vai destronar o King Kong como a oitava e ascender aos heavens do cinema.
Sem mais assunto,
Robert Zemeckis."

Pronto, aqui fica a carta que Zemeckis me enviou, espero que ajude a clarificar o debate.
Abraços a todos.

terça-feira, 27 de novembro de 2007 às 23:21:00 WET  
Blogger El Mariachi said...

Sandman, concordo com a maior parte das coisas que dizes. Achei interessantes as comparações com o photoshop. Sim, é um bocado como um gajo da primeira vez que pega num programa qualquer de tratamento visual/video/animação/etc e começa a sobrepôr efeitos uns aos outros sem se discernir minimamente uma estrutura ou uma ideia por debaixo
(forma sobre conteúdo ou qualquer coisa assim).

Quanto à "cena no carro" do Children of Men. Normalmente não vejo os extras dos DVD, mas neste caso fiquei interessado e dei uma vista de olhos, após ver o filme, por um making of que constava entre eles. Também me parecia a modos que impossível fazer aquele longo plano-sequência sem recurso ao blue screen, mas eles utilizaram um sistema muito complexo que envolveu a contrução de um mecanismo que permite operar a câmara através de um joystick e, se for necessário, fazê-la rodar completamente os 360º.Alguém o pôs no TuTubas por isso deixo aqui o linque e recomendo a visualização porque é fascinante o trabalho a que estes gajos se deram para fazer isto:

http://www.youtube.com/watch?v=4A55xTYXMpI

Hoje em dia a maior parte dos takes longos são construídos através de cortes de plano dissimulados (como o Fincher e a câmara que atravessa as paredes dos edificios) ou através da colocação dos actores em ambientes 3D. É por isso que filmes como o Children of Men (baseando-se em takes mais longos cuidadosamente ensaiados por toda a equipa) têm uma maior tendência para nos deixar na retina uma ou outra sequência memorável (não é que eu não goste do Fincher).

Outros exemplos memoráveis:

- Birth (jonathan glazer, 2004)
http://www.youtube.com/watch?v=DY8lfYiYfPk
(gloriosa sequência de abertura inspirada no kubrick e utilizando uma steadicam)

- The Life Aquatic With Steve Zissou (wes anderson, 2004)
http://www.youtube.com/watch?v=Pu7aiDgOiSw
(metade de um barco construido à "escala real")

- Touch of evil (orson welles, 1958)
http://www.youtube.com/watch?v=tW1bKefX7QU
(a abertura mais famosa do cinema)

terça-feira, 27 de novembro de 2007 às 23:27:00 WET  
Blogger Sandman said...

Mariachi, na verdade, foram utilizados efeitos visuais "invisíveis" ao longo de todo o filme, principalmente nas sequências que mencionaste.

Por acaso, depois de ter escrito as respostas anteriores, senti alguma curiosidade e andei a pesquisar na net, tendo encontrado este interessantíssimo artigo do site VFX World que fala justamente dos efeitos visuais utilizados no filme:

Reportagem Children of Men

Por exemplo, a cena do ataque ao carro é composta de várias sequências distintas filmadas no ambiente real (sem blue screen, portanto), com a posterior adição de elementos digitais (os motoqueiros, o cocktail molotov). O tecto do carro foi removido e o realizador e o cameraman estiveram sempre lá empoleirados (o tecto foi depois adicionado digitalmente).

A explosão no início, igualmente, é composta de duas sequências distintas, filmadas em dias diferentes. E o fabuloso travelling do combate urbano, com mais de 6 minutos ininterruptos, foi feito em 6 sequências separadas, posteriormente "coladas" digitalmente. Ah, e o bebé que vemos a nascer também é digital.

De qualquer forma, acho que isto não tira razão a nenhum dos lados, porque a tua opinião continua a ser extremamente correcta e válida, aliás, o facto de este filme ter sido feito com estes meios e não se notar ainda comprova mais o que dissemos. O filme é uma obra prima, também pela qualidade e "invisibilidade" dos efeitos especiais, um exemplo clássico de como colocar a tecnologia ao serviço de uma visão, um conceito, uma história. Quase apetece dizer que nestes casos, os efeitos visuais são como a maquilhagem: deve disfarçar as imperfeições, mas sem se notar que está maquilhada.

Já agora, o mesmo site traz outra reportagem interessante sobre o Beowulf. Vale a pena ler:

Reportagem Beowulf

quarta-feira, 28 de novembro de 2007 às 10:40:00 WET  
Blogger juanito said...

A propósito, convido o amigo Sandman, e aos demais interessados, a ler o post escrito aqui no blog por alturas da estreia do magnífico Children of Men, do Alfonso Cuarón, sensivelmente há um ano atrás. Poderá ser encontrado aqui:

http://bala-perdida.blogspot.com/2006/11/children-of-men-e-uma-achega-ao-007.html

quarta-feira, 28 de novembro de 2007 às 12:32:00 WET  
Blogger El Mariachi said...

Bem, é o que dá um gajo ser crédulo e acreditar nos extras que vêm com os DVD! De qualquer maneira, senti-me bem enganado com o feeling natural de todas essas sequências. Nestas coisas do cinema às vezes é melhor ficar na ignorância. Não deixa de ser um filme do caraças.

Saudações cinéfilas pra todos, menos para o Mário Augusto.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007 às 01:36:00 WET  
Blogger Kowbunga said...

Vale tio! Nos vamos a Espanha unos dias e todo mudia que nem sequier entiendo! Os posts no eran en la otra parte? Pois, bueno, eu vou me preparar para ir ver o Beowulf hoje à tarde e poder participar na conviersa, que pelos vistios já terminou :D
De resto Barcelona é uma buena cidade para todos os portuguieses que quisieren vir vivir para acá!
Tuve algunos problemas cuando me fui à feira do Manga e andiavam todos mascarados de Sangoku e Jedis e coisas que tal (literalmente, mais parecia um freakshow estado-unidense na hora de estreia do "Not Another Star Wars Movie" do que uma feira espanhola). Deu-se que este pessoale no es muy bueno hablando y cuando yo llegué dijiran "Mira aqui está el Sith!!!" (os "D's" aqui dizem-se "TH's"). Resultado começiaran todos os Jedis da Feira a corrier atrás de mim! De resto consegui hoy roubar um pouquito mas de internet a mi vecino para poder venir aqui escribir esto! Besios y abracios del pais hermanio!

domingo, 2 de dezembro de 2007 às 12:30:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

so um pequeno apontamento, quando se vai a pesca submarina, ja nao se leva garrafa de oxigenio!

sexta-feira, 14 de março de 2008 às 13:04:00 WET  

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