O Código Miró
Após um jejum de mais de 2 semanas, resolvi quebrar o enguiço e empenhar-me novamente na redacção de um texto. Como o relógio já deu as 4 da manhã à algum tempo atrás este conjunto de palavras, denominado texto, corre sérios riscos de não fazer grande sentido em certas passagens (como esta). O Código da Vinci é o filme que vai estoirar nas salas de cinema nos próximos dias e promete ser, por um lado, um fiasco e por outro um sucesso. Passo a explicar-me. Milhões de pessoas compraram o livro do D.B.. A Maria (Madalena) é mais falada que Cristo, o priorado do Sião deixou de ser secreto (e real), a Opus Dei anda a castrar os tipos que deixaram sair informações, e o papa até já aprovou o sexo com preservativo em certas ocasiões (no caso de haver sida ao barulho). E tudo isto porque o Da Vinci era homossexual e pintou um dos apóstolos com cara de gaja. Ou seja o Brown anda-me a estragar o prazer todo de ir a um museu e apreciar, na minha ingenuidade, que uma mulher nua pintada num quadro não passa de uma mulher nua pintada num quadro. Porque agora corro o risco de estar a olhar para o peito dela e aquilo representar, sei lá, pistas da localização dum projecto de uma bomba nuclear criada por antigos SS que trabalhavam secretamente para o Hitler algures na palestina, e que tinham estreitas ligações com o Islão, o que era uma contradição, porque o nazismo rejeitava raças (hoje em dia denominadas etnias) diferentes da ariana, mas é possível que houvessem documentos que altos dirigentes do partido nazi tivessem roubado aos (temporariamente) aliados russos, e que revelavam um segredo que iria permitir ao Hitler dominar o mundo (e a lua). Portanto, agora cada vez que olhar para um risco numa galeria de arte tenho que tentar desvendar duas coisas: a intenção do artista que, na arte pós-moderna, se releva uma tarefa praticamente impossível, e o “por detrás” da intenção. Ou seja, agora já não basta sentir-me estúpido por ver uma obra do Miró e interrogar-me “Que raio é aquilo?”. Agora a tarefa é duplamente exigente. É preciso procurar pistas em tudo o que é risco oriundo das cerdas de um pincel, em tudo o que é tela, em tudo o que é escultura. Mas por outro lado também eu próprio tenho umas questões que não encontrei resposta na história do Brown, como por exemplo, “Como é que é o traseiro da Mona Lisa?”. Esta é bastante pertinente (claro que rejeito veemente a hipótese de ela ser um gajo), e acho que mereço uma resposta no próximo livro (‘tá a ouvir Dan Brown?) que por essa altura (quando o Langdon descobrisse como era o rabo da Gioconda) seria uma saga mais extensa do que o Senhor dos Anéis (não, desta vez não vou começar a disparar comentários sobre a Weta, e vou limitar-me a dizer que há muito tempo que não ouço falar desse nome).
Agora o porquê do filme ser um fiasco e um sucesso ao mesmo tempo. Com o dinheiro estoirado na produção e na promoção do filme, é praticamente assegurado que a receita vai fazer com que o Ron Howard ainda faça filmes por mais uns tempos. Até porque como isto é uma adaptação de um best-seller, as pessoas que leram o livro querem ver se o filme corresponde à visão que tinham da história. E os que não leram o livro querem ver o filme porque ouviram dizer os que leram o livro que valia a pena ler o livro que não leram (grande!). No campo artístico o filme é bem capaz de ser um desastre (acho que posso afirmar isto mesmo antes de o ver), porque pareceu-me bastante evidente a vontade exacerbada de fazer o filme com grandes nomes do cinema mundial para que o filme fosse popularmente bem aceite. Depois há a questão de ser uma adaptação de um livro para cinema. Mas como é material muito recente e se tornou num fenómeno de culto imediato, não vai haver concerteza espaço à divagação artística e a uma articulação inteligente e rebuscada entre o texto (escrito pelo Brown) e a imagem.
Agora o porquê do filme ser um fiasco e um sucesso ao mesmo tempo. Com o dinheiro estoirado na produção e na promoção do filme, é praticamente assegurado que a receita vai fazer com que o Ron Howard ainda faça filmes por mais uns tempos. Até porque como isto é uma adaptação de um best-seller, as pessoas que leram o livro querem ver se o filme corresponde à visão que tinham da história. E os que não leram o livro querem ver o filme porque ouviram dizer os que leram o livro que valia a pena ler o livro que não leram (grande!). No campo artístico o filme é bem capaz de ser um desastre (acho que posso afirmar isto mesmo antes de o ver), porque pareceu-me bastante evidente a vontade exacerbada de fazer o filme com grandes nomes do cinema mundial para que o filme fosse popularmente bem aceite. Depois há a questão de ser uma adaptação de um livro para cinema. Mas como é material muito recente e se tornou num fenómeno de culto imediato, não vai haver concerteza espaço à divagação artística e a uma articulação inteligente e rebuscada entre o texto (escrito pelo Brown) e a imagem.
De qualquer das maneiras estou em pulgas para ver o filme (até porque tenho um fraquinho pela Audrey Tautou) e porque conservo ainda uma esperança vã de, no caso de acontecerem reconstituições bíblicas, o papel da Maria Madalena ser interpretado pela Monica Bellucci.
Etiquetas: noticias
4 Comments:
mesmo que o filme fosse realizado pelo wes anderson, com um elenco de jovens promessas do cinema espanhol, a fotografia de um checo qualquer que trabalha com o lynch e uma banda sonora composta pelo bernard herrmann ressuscitado, supeito que seria na mesma uma grande poia. e afirmo aqui a minha superioridade intelectual, de quem nunca pass(e)ou as vistas pelo compêndio em questão, para aconselhar leituras mais estimulantes, que dariam (se não metessem o ron "happy days" howard ao barulho - nada contra o homem, que até tem uma filha jeitosa) filmes muito mais ionteressantes em princípio; deixo uma lista:
- o pêndulo de Foucault
umberto eco
- survivor
chuck palahniuk
- os nomes
don delillo
- meridiano de sangue ou o crepúsculo vermelho no oeste
cormac mccarthy
bem tava aqui a pensar, se calhar é melhor deixarem estes livros em paz e concentrarem-se no argumento para o beethoven 7 e o rocky XVI, porque ainda sai a m**** do costume.
(sim, sou fixe e leio livros muito à frente, convidem-me para um programa na :2 para discutir a estética do pós-modernismo a meias com o francisco josé viegas e o pedro mexia)
Como Li o livro jà sei de antemao que o filme, para mim, vai ser um fiasco como todos os outros que li e posteriormete foi ver.
De toda a maneira tambem eu estou em pulgas para a estreia quero ver como è que o senhor deu a volta ao txt, se è que deu a volta ao texto...
Os actores, pois sao bravos sim senhor, contudo, todavia, porem e olhando para o qf (queficiente fisico), digamos que o Tom nao esta na mèdia as esperanças recaiam no frade, mas è albino e frade!
Ja na categoria gaja da Amèlia gosto e muito na Monica aquilo que mais aprecio è a sua intelegencia...
Enfim, seja como for vou ve-lo sempre dobrado em italiano e por isso nem que fousse o menhor filme de sempre onde os actores mais inteligentes...se tinham esquecido do guarda roupa, è sempre mau!
caro metafoor
lamento não reconhecer (ou descodificar, para entrar na onda davinciana) a filiação do seu nome artístico, que não me parece muito bem esgalhado e/ou evocativo, por isso vou tratá-lo, digamos, por lucho gonzalez.
bem, lucho, a intelectualidade é uma condição superior que não é oferecida ao comum plebeu, e deve ser instigada e cultivada desde logo nos primeiros anos de vida do petiz, fornecendo-lhe com regularidade suplementos vitamínicos que estimulem o desenvolvimento da massa cinzenta e misturando com as primeiras papas uns pózinhos de dialéctica pós-kantiana ou da teoria situacionista da dérive, para a criança poder apreender precocemente a complexidade deste mundo pós-pós-moderno.
como exemplo de sucesso desta formação, digamos, superior, que olha de cima para toda a gente, incluindo anões de circo, posso assegurar-lhe que essa alegoria (sugiro que tente um dicionário de sinónimos) da ponte e da barreira é extremamente pirosa, do calibre da prosa desse escritor brasileiro que refere, e que a relação com os meus antepassados (que incluem gente tão distinta como tocqueville, chateaubriand, courgette ou crême brullée)nunca esteve tão bem quanto hoje.
concordo consigo, lucho, quando evoca as virtudes de um bom leitão, e acrescento rancho, cozido e feijoada ao menu de degustação, porque é na comida do povo que encontro as únicas razões para descer do meu Olimpo privado e resignar-me a hábitos mais próprios desses comuns mortais. do vinho nem se fala, mas prefiro um bom barca velha '86 a um carrascão servido no pinto, como julgo ser óbvio, senão sempre pode perguntar ao kafka ou ao kant, ou até a outros cujo nome não comece por k (menos preguiça a consultar a enciclopédia, meu caro!).
os prazeres simples da vida que o seu colega citava são um pouco limitativos para uma plena fruição da vida, por isso tento enriquecê-la com actividades tão díspares, sejam o visionamento de filmes ou a incúria profissional, o achincalhamento do próximo ou um jogo de bola (ou básquete), o proxenetismo amador ou a pesca desportiva, o estudo da física nuclear ou a enumeração dos estados norte-americanos, por ordem ascendente de percentagem de população residente sem grande coisa que fazer num domingo à tarde, depois do almoço.
outra coisa. a polemização que se fez à volta da relação da estória do filme com a história "real", questões do catolicismo e do jesus christ da maria madalena bellucci e etc e tal, é uma manobra de marketing bem sucedida baseada num tema sem profundidade. simplesmente os executivos da sony terão pensado:
executivo A
"iiiih, se calhar é má ideia estrear o filme em cannes, que eles são gajos para bater forte no excelente trabalho [sic]que o ron e o tom e a amelie fizeram e depois o pessoal, enganado [sic], pensa que o filme não presta! temos que arranjar uma polémica bem fixe para promover o filme!"
executivo B
"pois é!e isso... bem... isso é bem fixe!e aquelas tretas do catolicismo e tal?, o mel gibson safou-se à grande, ó pá!"
executivo A
"boa ideia!tá arrumado, vamos beber uma imperial."
quanto ao sexo oposto e à genitália feminina, lucho, acho que está na hora de pedir a alguém mais velho e informado para ter uma conversa consigo. sabe, aquela conversa, dos passarinhos e das abelhinhas e das coisas que eles fazem para aumentar a espécie e que há quem diga que os humanos também fazem de vez em quando (não ouviu isto de mim, hã?).
disponha, caríssimo.
caro sr.gonzalez
concedo-me o obséquio de esquecer a sua incontinência verbal, pois também é verdade que sou um frequentador assíduo das bravas tertúlias que organiza esporadicamente, ocasiões únicas e plenas de genuína joie de vivre, que por isso mesmo rompem com o marasmo estabelecido na noite dita "académica" desta cidade "dos estudantes" (o uso das aspas é acompanhado da sinaléctica apropriada, erguendo ambos os braços e flectindo o indicador e o médio de encontro ao polegar duas vezes).
até à próxima
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