bala perdida: setembro 2008

quinta-feira, setembro 25, 2008

Choke



Há uns anos atrás, em 1999, ainda no Século XX portanto, a extinta revista Face portuguesa (alguém se lembra?) fazia capa com o Brad Pitt em pose cabedal cool a propósito do novo filme de David Fincher, Fight Club. A curta existência desta publicação teve ao menos o condão de aguçar o meu interesse por tal película, especialmente através dos estranhos anúncios (parte da genial campanha de promoção do filme) que acompanhavam a transcrição da entrevista ao futuro senhor Jolie. O mais intigrante deles reproduzia uma imagem do Edward Norton deitado de lado no sofá com a boca aberta, umas olheiras de meio metro à volta dos olhos e a intrigante frase

não, não podes morrer de insónia.

Foi este o meu primeiro contacto com o imaginário do escritor norte-americano Chuck Palahniuk, autor do homónimo livro que o argumentista Jim Uhls adaptou para Fincher filmar em grande estilo. À saída daquela sala de cinema de província nesse longínquo ano de 1999 afigurou-se como evidente a necessidade de conhecer mais sobre a figura por detrás desse chorrilho de provocações incorporado em celulóide. Sem ser um grande sucesso de bilheteira, Fight Club não deixou ninguém indiferente, para o bem ou para o mal, sendo nos dias de hoje, quase uma década depois, apontado por muitas cabeças pensantes como o filme definitivo da geração Y (não confundir com o suplemento pseudo-culto-urbano do Público). Uma lista publicada pela revista britânica Empire há pouco tempo (mais ou menos anteontem) com os 500 melhores filmes de sempre coloca o filme num muito prestigioso décimo lugar.



Palahniuk, que escreveu Fight Club enquanto trabalhava como mecânico, depois de ter visto recusada a publicação do seu primeiro manuscrito (Monstros Invisíveis, publicado posteriormente, em 1999, editado em Portugal pela Casa das Letras), tem já uma série de romances publicados, afirmando-se hoje como um autor de culto nos E.U.A. e além-fronteiras. Após o semi-sucesso do filme que adaptava Fight Club, Survivor (Sobrevivente, também editado em Portugal pela mesma editora), uma estrambólica história sobre cultos religiosos, linhas S.O.S. Suicídio e conselhos de limpeza para fornos micro-ondas, narrada em flashback pelo protagonista enquanto pilota um avião desviado numa missão suicida, seria a próxima obra a adaptar ao cinema. Mas os acontecimentos de Setembro de 2001 fizeram com que os produtores do filme abandonassem o projecto, receando que alguém relacionasse as duas coisas e em seguida o Pentágono começasse a bombardear a casa de Palahniuk com o intuito de descobrir as armas de destruição maciça que ele guardaria numa arrecadação do quintal, junto do adubo para as leguminosas.

Após uma série de rumores sobre adaptações de outros romances que invariavelmente acabavam em desmentidos, Clark Gregg, um actor secundário de séries de televisão e cinema pegou em Choke, tomo quarto da bibliografia de Palahniuk, com o intuito de o transformar em película. Choke (Asfixia, também editado no nosso país pela Editorial Notícias, na colecção Made in U.S.A.) trata da vida um tanto peculiar - como sempre nos livros de Palahniuk - do seu protagonista, Victor Mancini, um viciado em sexo em (suposta) recuperação, que divide o tempo entre o emprego, num parque temático que reconstitui uma vila colonial americana, e visitas a uma mãe que já não o reconhece, internada num lar para idosos com problemas mentais. O título do romance remete para uma outra, menos digna, actividade que Victor exerce em restaurantes finos: provocar o sufoco através da ingestão de grandes pedaços de comida, deixando-se ser salvo pelo providencial bom samaritano com o qual estabelece uma momentânea relação de maternidade que nunca terá conseguido estabelecer com a própria mãe.



Os romances de Palahniuk partem sempre de um dispositivo do género, personagens que vivem nas margens da sociedade e que se envolvem em actos burlescos, grotescos, muitas vezes verdadeiramente escabrosos. Muitos críticos referem depreciativamente que o que Palahniuk escreve é junk food. Não deixa de ter alguma verdade essa afirmação, mas para o escritor norte-americano esse lixo é apenas mais uma matéria-prima que ele trabalha para construir narrativas cuja estrutura e temas não fogem muito do romance americano clássico (esperemos que não apareça por aqui algum estudioso das Letras para me meter no meu lugar). Os resultados variam. Choke não será dos seus melhores livros (os meus preferidos: Survivor, Fight Club e Haunted), mas o virar da última página deixa sem dúvida uma série de cenas marcantes na nossa cabeça. Vamos esperar que o filme consiga fazer alguma justiça a essas imagens. A estreia em Portugal está prevista para... parece que ainda não se sabe bem quando. É esperar.

Se alguém estiver interessado em saber mais sobre a escrita de Palahniuk, há um pequeno conto disponível aqui. É um excerto retirado de Haunted, livro que que funciona como uma espécie de compêndio de histórias de horror. O conto está alojado no site de fãs do escritor (com carradas de informação), que Palahniuk, provando que é bem fixe, nomeou como o seu site oficial.

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sexta-feira, setembro 05, 2008

Venham Mais Três

A equipa Bala na Cité (Lamego).

Precisamente hoje, perfaz este blog três anos. Três longos anos. Tão longos que se olha para trás e, além desta estante atolhada de livros que está aqui, não consigo vislumbrar mais nada. Bem, talvez fragmentos da parede que está por trás. Transcrevendo o post que deu início à viagem, acabo este que celebra a anual trilogia.


"Começou o blog mais fixe da zona."
Mari, Cité