bala perdida: maio 2006

segunda-feira, maio 29, 2006

Céu, Terra, Palha e Alcatrão

Alguém me perguntasse que sítio do mundo elegeria eu para viver, uma interrogação própria de quem largou vícios da puberdade à pouco tempo, e entra agora, timidamente, numa fase em que se começam a pagar impostos ao estado, agravado com o facto de, a idade se revelar prematura no que toca a experiência de vida responderia, ingenuamente, “talvez Nova Iorque”. A resposta apesar de válida é, claro está, sonhadora, própria de um indivíduo que se encontra ainda no voo involuntário típico de quem é arremessado faz pouco tempo de um período da vida, o juvenil, idiotamente infantil, sem saber bem onde se vai aterrar.
Como há uns bons 4 anos que não punha os pés, nem a cabeça, abaixo da linha de Lisboa, voltei eu ao Alentejo e tive a possibilidade de constatar novamente, porém com outros olhos e, se bem que não de uma forma tão idílica como alguns nos fazem acreditar ser, a veracidade da beleza agreste, dourada plana e preguiçosa das terras desertas que se situam ali algures entre o Tejo e o Guadiana. Não interpretar mal, todavia, o conteúdo das minhas palavras, referente a uma subversão de vontades no que toca à vontade, imaculada pura verdadeira e absolutamente idílica, de querer, um dia, pisar os chãos de Manhattan com um cartão de morador no bolso do casaco, digamos, junto a um bilhete rasgado do dia anterior ter andado a divagar pelo Museu de Arte Moderna ou no Guggenheim. Não confundir as coisas. O Alentejo é real, Manhattan não, pelo menos por enquanto, para mim, claro está.
Foi impossível não imaginar que a estrada poderia ser a 66, e que o meu carro poderia ser um cadillac, e que estava a atravessar os U.S. e não o Alto Alentejo. Eu o céu a terra a estrada e o capim, leia-se palha, um cenário perfeitamente possível de ter sido extraído de um filme do Lynch, mas sem os fenómenos paranormais nem os cortadores de relva. Lá ia eu, dentro da minha viatura movida a combustível fóssil, que verdade seja dita, não abundava no reservatório, mas que ia sendo suficiente para me afundar nas profundezas rurais, enquanto a paisagem norte de árvore alta, verde e morfologicamente mais agressiva, depreenda-se com mais perturbações ao nível topográfico, se ia transformando ao jeito de um degradé natural, numa gravura horizontal, ouro, de arvoredo muito pontual onde abunda a palha. Ao atravessar meio Alentejo por estradas que certamente apenas por uma vez conheceram a palavra alcatrão, numa viagem em que não interessa o destino, mas sim o percurso que, quanto mais extenso, mais introspectivo e profundo se torna, tal Straight Story, ergo o punho em direcção ao céu, com o vidro totalmente aberto, e acompanho, em jeito de grito, para se ouvir, quiçá do outro lado do morro, a música que se transforma num potenciador de pura adrenalina.
No caso eram os Interpol. Nova-iorquinos claro está.

terça-feira, maio 23, 2006

Don Perignon

Ok, antes de me acusarem à bruta e pensarem que "este tipo só põe aqui fotos de gajas", pensem antes assim "este gajo é meu amigo, e mostra-me coisas bonitas". Porque, esporadicamente, como alguém disse, este belo e pitoresco sítio cibernético é por vezes alvo de tentações do Demo. Demo este que me tem tentado bastante nos últimos tempos e, alheio a isso não será o facto de a primavera estar agora no seu esplendor, e acho que inclusivé há pássaros nas árvores a chilrear, e morangos a brotar do chão, e como o calor abrasador do verão já chegou a Coimbra, cidade prematura no que toca a humidades e calores (ahahahah, ok esqueçam) eu, um comum mortal, vou cedendo às enguinações maquiavélicas do Belzebu. E a última veio em francês, e não tem nada que ver com don perignon.
Eu já lhe tinha dado uma mirada aquando do seu papel de Amélia Pulona, mas verdade seja dita, a outrora menina, frágil e vulnerável, tranformou-se numa mulher poderosa e manipuladora, enviada à terra pelo Demo, e junta-se agora às outras duas, que partilhavam o pódio na minha cabeça, e na de mais 50 milhões de homens, http://bala-perdida.blogspot.com/2006/03/nudeza-feminina.html para quem nao percebeu. Deixo aqui a imagem, obra do Demo, e espero que esta recta final da primavera me traga mais alegrias destas. Claro que o causador disto tudo foi o Déne Castanho e o seu livrinho da treta, que tenho que confessar foi bem do meu agrado, porque o tipo que fez o filme, o Róne também ele mensageiro do Belzebas, fez questão em mostrar o rosto mais bonito de toda a gália, obélix fica lá com a fabala, durante 20 minutos no final do filme, praticamente sem cortes o que, se por um lado é extremamente gratificante do ponto de vista estético e mesmo emocional, por outro não deixa de ser terrívelmente triste, porque fui o caminho todo para casa na esperança, já ela dúbia, de ver algo parecido a passar perto de mim. Escusado será dizer que mal cheguei a casa, estatelei-me no sofá durante horas em profunda depressão e a questionar o porquê de haver pessoas tão maléficas, e porque é que há um Diabo e há um Deus, quando podíamos ser todos amigos, e porque é que a Maria Madelena, no filme, não foi interpretada pela Bellucci, e porque é que a Scarllett não me telefona, e essas coisas mundanas que só perturbam o cérebro, e não deixam um tipo como eu, feito de carne e osso, e outras coisas também, dormir descansadinho como quando tinha 3 anos e pensava vida era uma palavra bonita.
Xau.

sexta-feira, maio 19, 2006

Maria Antonieta vs. Sofia Cópula: a batalha das cabeleiras postiças, Tomo I



Não querendo entrar já no domínio da ciberpornografia, como vem sendo hábito (esporádico) neste pasquim electrónico, não me lembrei de melhor imagem para iniciar esta dissertação sobre um filme que só verei em Outubro, quando estrear entre nós, o pessoal que não tem convite para Cannes. Aos senhores da PJ aviso desde já que a moçoila, a Dunst, já é maior de idade, apesar de na película assumir o papel de uma jovem princesa austríaca que deposa o Luís XVnão-sei-quantos aos 19 aninhos, tornando-se automaticamente na mulher com mais grana do mundo. Montes de pasta e de poder, vivia-se bem na altura, antes destas coisas de repúblicas, democracias e vinte e cinco de abris e o pessoal do bloco sempre na TV a desbobinar um discurso incipiente.
Dizia eu, o filme está no festival de Cannes, inserido na competição oficial e, pelo aspecto do bicho, diria que vai arrumar com a concorrência, nem o tuga Pedro Costa, com mais um dos seus dramas urbano-depressivos, vai aguentar de pé no fim. Não tenho dotes premonitórios, ao contrário do professor karamba, mas mesmo só tendo pousado as vistas no trailer promocional do "Marie Antoinette", já o considero um dos melhores filmes de sempre (ok, exagero, mas tenho a certeza que é melhor que o "Spy Kids 3d"!).
É a celebração do poder do trailer! Desde o promo do homevideo da paris hilton que nada me despertava tanta vontade de ver um filme. Começa com uma música brutalíssima dos New Order, que sugere logo que isto não vai ser a treta da reconstituição histórica pseudoromântica do costume (jane austen sucks, really!). Depois vemos imagens da menina, algumas bem catitas em slo-mo, uns travellings pelos salões de baile e, quando percebemos que o rei é interpretado pelo Jason Schwartzman, temos a certeza que o filme vai arrebentar com a escala, porque um gajo que fez o papel principal no melhor filme dos últimos tempos (que o jone teve o desplante de não ver e, depois, perder a minha cópia) não pode estar errado - o algodão não engana, já dizia o mordomo e eu corroboro.
Mas será que a menina Sofia vai mesmo superar o outro melhor filme dos últimos tempos, que até foi ela que realizou e escreveu, onde o billy murray e a divina escarlate andavam a flirtar no meio de tokyo por uns dias, história de amor pós-moderno que atingiu com violência certeira os corações de românticos incuráveis, homens casados de meia-idade e ninfetas adolescentes (com dois dedos de testa e um palmo de cara) acabadas de sair da faculdade por esse mundo fora (e até gajos intratáveis como eu)? Espero até Outubro para ver e depois, se confirmar a qualidade do produto, sou o primeiro a assinar a petição para o copolla pai pedir a reforma e se dedicar à produção vinícola e a palestras sobre o apocalypse now e a trilogia do padrinho.
Vejam o trailer e não se arrependerão!
(se não gostarem vejam o trailer da lassie, também deve ser bom!)

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quinta-feira, maio 18, 2006

O Código Miró



Após um jejum de mais de 2 semanas, resolvi quebrar o enguiço e empenhar-me novamente na redacção de um texto. Como o relógio já deu as 4 da manhã à algum tempo atrás este conjunto de palavras, denominado texto, corre sérios riscos de não fazer grande sentido em certas passagens (como esta). O Código da Vinci é o filme que vai estoirar nas salas de cinema nos próximos dias e promete ser, por um lado, um fiasco e por outro um sucesso. Passo a explicar-me. Milhões de pessoas compraram o livro do D.B.. A Maria (Madalena) é mais falada que Cristo, o priorado do Sião deixou de ser secreto (e real), a Opus Dei anda a castrar os tipos que deixaram sair informações, e o papa até já aprovou o sexo com preservativo em certas ocasiões (no caso de haver sida ao barulho). E tudo isto porque o Da Vinci era homossexual e pintou um dos apóstolos com cara de gaja. Ou seja o Brown anda-me a estragar o prazer todo de ir a um museu e apreciar, na minha ingenuidade, que uma mulher nua pintada num quadro não passa de uma mulher nua pintada num quadro. Porque agora corro o risco de estar a olhar para o peito dela e aquilo representar, sei lá, pistas da localização dum projecto de uma bomba nuclear criada por antigos SS que trabalhavam secretamente para o Hitler algures na palestina, e que tinham estreitas ligações com o Islão, o que era uma contradição, porque o nazismo rejeitava raças (hoje em dia denominadas etnias) diferentes da ariana, mas é possível que houvessem documentos que altos dirigentes do partido nazi tivessem roubado aos (temporariamente) aliados russos, e que revelavam um segredo que iria permitir ao Hitler dominar o mundo (e a lua). Portanto, agora cada vez que olhar para um risco numa galeria de arte tenho que tentar desvendar duas coisas: a intenção do artista que, na arte pós-moderna, se releva uma tarefa praticamente impossível, e o “por detrás” da intenção. Ou seja, agora já não basta sentir-me estúpido por ver uma obra do Miró e interrogar-me “Que raio é aquilo?”. Agora a tarefa é duplamente exigente. É preciso procurar pistas em tudo o que é risco oriundo das cerdas de um pincel, em tudo o que é tela, em tudo o que é escultura. Mas por outro lado também eu próprio tenho umas questões que não encontrei resposta na história do Brown, como por exemplo, “Como é que é o traseiro da Mona Lisa?”. Esta é bastante pertinente (claro que rejeito veemente a hipótese de ela ser um gajo), e acho que mereço uma resposta no próximo livro (‘tá a ouvir Dan Brown?) que por essa altura (quando o Langdon descobrisse como era o rabo da Gioconda) seria uma saga mais extensa do que o Senhor dos Anéis (não, desta vez não vou começar a disparar comentários sobre a Weta, e vou limitar-me a dizer que há muito tempo que não ouço falar desse nome).

Agora o porquê do filme ser um fiasco e um sucesso ao mesmo tempo. Com o dinheiro estoirado na produção e na promoção do filme, é praticamente assegurado que a receita vai fazer com que o Ron Howard ainda faça filmes por mais uns tempos. Até porque como isto é uma adaptação de um best-seller, as pessoas que leram o livro querem ver se o filme corresponde à visão que tinham da história. E os que não leram o livro querem ver o filme porque ouviram dizer os que leram o livro que valia a pena ler o livro que não leram (grande!). No campo artístico o filme é bem capaz de ser um desastre (acho que posso afirmar isto mesmo antes de o ver), porque pareceu-me bastante evidente a vontade exacerbada de fazer o filme com grandes nomes do cinema mundial para que o filme fosse popularmente bem aceite. Depois há a questão de ser uma adaptação de um livro para cinema. Mas como é material muito recente e se tornou num fenómeno de culto imediato, não vai haver concerteza espaço à divagação artística e a uma articulação inteligente e rebuscada entre o texto (escrito pelo Brown) e a imagem.

De qualquer das maneiras estou em pulgas para ver o filme (até porque tenho um fraquinho pela Audrey Tautou) e porque conservo ainda uma esperança vã de, no caso de acontecerem reconstituições bíblicas, o papel da Maria Madalena ser interpretado pela Monica Bellucci.

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quinta-feira, maio 11, 2006

O dia mais longo x2



Mesmo antes de começar a queima já os membros da outra BP (a que não trata de petróleo e seus derivados) andavam atarefados a percorrer o país de lés a lés em busca do santo graal, que desta vez tomava a forma de um aparelho de captura audiovisual com 3 ccds, zoom óptico 16x e um corpo bem torneado, apesar de algumas esquimoses visíveis a olho nu. Foi uma espécie de on the road com menos drogas e whiskey e mais discussões tripartidas sobre a estética da arte, a solução para o conflito israelo-palestiniano e a qualidade do marisco nos casamentos (o recheio da sapateira estava excessivamente picante; o camarão não matou ninguém). Atrevemo-nos a penetrar nas profundezas da fortaleza dos CTT Expresso e aí ficamos a conhecer a máquina, um ser meio cyborg, meio lagarta, que detém o controle sob todo o correio que entra neste país, sejam massajadores faciais provenientes da Tailândia ou sabonetes aromatizados a rosmaninho, da Holanda - vai um abraço para o segundo chefe de turno e para o sr.coutinho; já o sr. josé reis desiludiu-nos um bocado quando apareceu de mãos vazias para nos receber.
Já em Coimbra, pudemos finalmente admirar o mais recente membro da família BP em todo o seu esplendor (ok, isto soa um bocado a softcore, nada disso). Depois de confirmarmos que era mesmo real, deitamos mão ao trabalho e, depois de um sono de beleza - com pepinos nos olhos e tudo, porque temos uma certa reputação de upper class pretty boys a manter - rumamos ao interior para, entre outras coisas, comer marisco, beber café e fugir de palhaços que cuspiam fogo e arrotavam a fiolho. À noitinha, já com o bucho cheio, ainda nos fizemos à estrada até Leça da Palmeira para nos juntarmos à festa de homenagem ao mestre Távora, mas, como não havia marisco e a cerveja estava inflaccionada, curtimos um electro e um funquezito e depois bazamos de vez para a sede, lutando contra o sono e discutindo se é um homem ou uma mulher que está na capa da última FHM (só pode ser um homem).
Uma aventura, meus amigos, portanto. Viemos cheios de histórias para mais tarde recordar e contar aos netos em frente à lareira. É uma vida. Vou ali até à FNAC ler qualquer coisa do Sófocles, ou do Platão. Fiquem bem.