bala perdida: fevereiro 2007

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Óscares 2007



Ainda que doente arranjei forças suficientes para resistir ao cansaço que é ficar até às 5 da manhã a olhar para uma televisão, na esperança de ver o que, realmente, superou tudo o que era esperado.

A noite começou com as derrapagens do costume com o Mário Augusto na Sic Notícias a dizer as balelas do costume o que é sempre bom para aguçar o apetite. A malta de o púbico e da revista-sobre-tudo-menos-cinema e todos os pseudos-críticos aclamavam a uma só voz a vitória de Babel como melhor filme. Aqui o Juanito avisou, inclusive enviei mails à redacção deles e avisei-os que Babel não ia ser o premiado como o melhor filme de 2006. Ninguém ligou.

Adiante, a noite começou tímida enquanto a Ellen Degeneres ia mandando as graçolas próprias de um bom anfitrião – que foi. Os primeiros prémios decorreram sem grande atribulação, alguma surpresa para o Pan´s Labirinth que arrecadou logo os 3 primeiros, mas tudo muito sereno até a primeira fífia da noite chegar com a entrega do Óscar de melhor animação. Foi anunciado o Happy Feet quando toda a gente sabe que o Óscar de melhor animação era do Cars da Pixar. Sem comentários. O período negro da noite, continuou quando entrou o Ben Afleck no palco para umas das homenagens da noite. Nessa altura, admito, estive quase a desistir e fui fazer umas torradas. Depois de barrá-las bem com manteiga, olhei para o azulejo partido da minha cozinha e pensei, isto não pode piorar mais porque já se enganaram num Óscar e o Ben Afleck entrou no palco, levantei a cabeça e mentalizei-me que as coisas podiam mudar e, para celebrar esse novo fôlego que me assolou bebi um copo de leite cheiinho até cima, de penalty, assim como quem bebe tequilla. Mandei-me para a sala e recostei-me no sofá. Entretanto o Alan Arkin ganhou o Óscar de melhor actor secundário, a melhor canção foi para uma do filme do Al Gore e as coisas começaram a fazer sentido. O primeiro pico da noite foi quando o Gustavo Santaolalla ganhou o segundo Óscar consecutivo de melhor banda sonora, depois de o ter arrecadado o ano passado com o Brokeback Mountain – ambas verdadeiramente fabulosas. Este que viria a ser o único Óscar da noite para Babel. Nesta altura já a tipa dos ídolos americanos tinha também arrecadado o Óscar de melhor actriz secundária – o que devo dizer desde já que me parece injusto, porque para premiar cantores existem outros prémios, nomeadamente os Grammys e os Globos de Ouro portugueses. Daí em frente foi sempre a subir, com o melhor argumento adaptado a recair em The Departed, e o original a saltar para as mãos do tipo que escreveu o Little Miss Sunshine.

Depois a Ellen Degeneres criou dois dos melhores momentos de televisão alguma vez transmitidos na história da TVI (o terceiro ainda estaria para vir) superando mesmo o pontapé de Marco na boca da Sónia, quando foi entregar um “argumento” ao Scorsese e pedindo depois ao Spilberg para tirar uma foto a ela própria junto do Clint Eastwood (Madeira-de-Leste) que ontem apenas se levantou para ir urinar e para entregar o Óscar (honorário) ao Morricone – visivelmente emocionado com a oferenda da academia. Absolutamente fabuloso. O melhor actor era um 50-50 entre o Forest Whitaker e o resto da malta, se bem que eu acho que o Leo já merecia um prémiozito pelo seu trabalho assim como o Peter O’Toole que ainda se dignou a ir ao teatro kodak para ver mais uma estatueta passar-lhe ao lado. A melhor actriz estava mais que confirmada, e a Hellen Mirren acrescenta assim o Óscar a um lote de prémios que já vai extenso. Depois o grande momento da noite, e que marca a história da noite oscariana quando o Spielberg o Coppola e o Lucas sobem ao palco, juntos, para entregaram, obviamente, o Óscar ao Scorsese. Não podia ser de outra forma nem podia ser entregue, por estes três, a outra personalidade que não aquela. Quando os três treparam ao palco foi um prenúncio explícito que daí a um minuto, que foi o tempo que demoraram a trocar a graçola do Óscar – porque o Lucas foi o único deles os três que não foi ainda galardoado com um Óscar – iriam anunciar o inevitável. Finalmente ouviu-se o que há muitos anos se devia ter ouvido e, o Scorsese teve a sua recompensa.

Para o último prémio aparece-nos a (outrora) bela Diane Keaton e o bicho humanóide que é Jack Nicholson, dispostos a anunciarem tudo menos “Babel”. E foi o que aconteceu, o Clint Madeiras já estava a levantar a mão a modos que a esboçar um agradecimento e um sorriso, o Spilberg também já se dirigia ao palco quando o Jack Nickolson, surpresa das surpresas, anuncia “The Departed” em vez de “Letters From Iwo Jimma”.

E acabou. Pena que passou tão rápido – para o ano há mais. Indeed.

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quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Tiro ao Lado

[Ou porque é que o Babel não vai ganhar o Óscar de melhor filme]



O Babel é um excelente exercício mas é um mau filme. E o problema resume-se numa frase. Não há unidade no filme. Pelo menos aparente. O diagnóstico: é um filme que se reparte em três histórias unidas por laços afectivos e circunstâncias temporais. São três histórias que se vão tocando ao longo do filme – Japão, Estados Unidos/México e Marrocos. Basicamente o Iñarritu apresenta-nos 3 ambientes culturais bastante diferentes, e dentro de cada um deles explora o choque cultural inerente quando duas delas se encontram. O problema é que há uma das histórias que é muito marginalizada em relação às outras e o elo que a liga às outras duas é demasiado frágil o que faz com que o filme não tenha um valor unitário, mas sim fragmentado. Tanto a fotografia como o elenco, assim como a intriga das histórias são boas. Muito boas. Mas o terço da história que se passa no Japão, é demasiado desligado das outras 2, ligando-se apenas por um acontecimento que está a um centímetro de ser ridículo, e a verdadeira ligação, se bem procurada e rebuscada seria essa afinidade de valores maiores que é, supostamente, transversal a qualquer cultura.

Babel para mim seria genial se, a história do Japão fosse um curta-metragem que antecedesse o filme que por sua vez seria uma alternância entre as duas outras histórias. Assim o Iñarritu ganharia um lugar perto dos Grandes Mestres e, já agora levaria a estatueta para o México. Assim, parece que quem vai levar a estatueta de melhor realizador vai ser o Scorcese e o de melhor filme vai ou para o Departed ou para o Letters From Iwo Jima – que curiosamente também se passa no Japão. Da prómixa vez pedes conselho ao Clint Eastwood, ‘tás a ouvir ó Iñarritu?

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