bala perdida: julho 2006

quarta-feira, julho 19, 2006

Um elefante entra numa loja de loiças e...



Saudações da província. Alargando o espectro deste pasquim de frequência de actualização semanal/mensal (conforme o nosso tempo vai permitindo, entre uma e outra produção audiovisual) cabe-me introduzir alguma relevância no que se vai por aqui discutindo, deixando por isso de lado assuntos de saias, ou cuecas, de super-heróis, seus poderes telequinéticos, ou escolhas discutíveis de penteados (vide jean grey ou o famoso caracolito do super-bicho).

Ontem à noite, apesar da trovoada que ameaçava cuspir fogo e deitar a minha cabana no topo da serra por ali abaixo, comigo e o meu receptor de TV lá dentro, consegui ver o 'Elephant', do Gus Van Sant, filme que andava a tentar deitar as mãos talvez desde os anos 80, mais coisa, menos coisa. Agradeço ao pessoal da crew do canal 1, já que é a telvisão pública a única preocupada em apresentar filmes:
a) de jeito
b) sem o jackie chan, ou o will smith, ou o adam sandler
c) que não tenham já passado três vezes no último mês (tvi, último domingo: pela 34a vez, o cume de dante & pela 45a vez, a conspiração da aranha, com morgan-já-fiz-filmes-de-jeito-há-uns-dez-anos-freeman)

Como dizia, tinha criado uma certa expectativa para ver o filme, aconselhado por amigos e pelo trailer e, principalmente, por ter visto, do mesmo realizador, o Last Days, há pouco tempo (que no seu ritmo manoeld'oliveiriano - ou seja, modorra geral, ausência de movimentos de câmara, planos de 10 minutos - era um belo pedaço de cinema evocativo de uma personagem ligeiramente parecida com o kurt cobain, aquele gajo do grunge, tão a ver - não, não tem nada a ver com comunas ou outras seitas de talibans).
Começa com um puto, ar de modelo calvin klein, a chegar à escola depois de guiar o carro, com o pai, bêbado já de manhãzinha, ao lado. Chega à escola e é apanhado pelo director, porque está atrasado. Passamos para outro puto, ar de modelo calvin klein, a tirar fotos ao pessoal para fazer um portfolio. Depois há outro puto, atleta, ar de modelo calvin klein, encontra-se com a namorada (ligeiramente abaixo das medidas heroin chic standard para ser modelo calvin klein). Entretanto, já passaram 30 minutos de planos longuíssimos a seguir esta pandilha de um lado para o outro.
"Não se passa nada? Quando é que entram os mauzões dos putos satânicos a disparar sobre tudo o que se mexa?" - seria um pensamento natural por esta altura. Mas não, isto é outro filme evocativo do Gustavo Santo, movimentando-se em torno da rotina de mais um dia de aulas num típico liceu americano (à excepção de quase todos os seus alunos trabalharem como modelos para o calvin klein), que desemboca em massacre ao bom velho estilo shoot'em up/in your face/ FPS (quem passa algum tempo em frente ao computador a disparar sobre alienígenas/terroristas/civis inocentes percebe esta linguagem) - esta comparação não é muito decabida, como se poderá comprovar em algumas cenas mais para o fim do filme. Rotina que se estrutura em torno de voltas e voltas pelos corredores, seguindo cada um dos míudos/modelos em travellings belíssimos, de fazer chorar as pestanas, com uma fotografia radiosa, cortesia de um gajo chamado harry savides, que vou daqui a bocado pesquisar no imdb.
Tal como no Last Days, há uma cronologia circular, momentos que se repetem nos diferentes pontos de vista de cada um dos protagonistas, acentuando o carácter deambulatório, vagabundo, abstracto - riscar o que não interessa - da câmara, afastando de todo qualquer noção de construção narrativa, o que só fica bem quando se está a lidar com um assunto tão sério como o que aconteceu em Columbine e inspirou esta produção. Um filme que não procura explicações, nem as fornece, simplesmente um apanhado de um tempo, de uma realidade palpável, como se pudéssemos ser um intruso omnipresente em todos os acontecimentos marcantes da cultura popular deste século. Foi o que senti quando vi o Last Days, e agora, o mesmo. Talvez façam parte de uma saga (há quem diga, que juntamente com o 'Gerry', que nunca vi, estes dois filmes formam uma trilogia sobre a morte). Nada de trilogias sobre super-heróis, estão a ver.
Ficamos à espera do próximo tomo, desta vez, de preferência, com menos modelos e mais pessoas a sério. Gus, és um gajo fixe, vou-me dispôr a ver o 'Gerry' e perdôo-te aquele filme com o Matt Damon e o outro gajo que é o pior actor do mundo.
Fiquem bem. Boas férias.

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terça-feira, julho 18, 2006

X-Men(s)



É verdade que a missão do Brett Ratner era extraordinariamente difícil, porque depois de se ter visto a maravilha das maravilhas que é um dos filmes de super-herois mais bem conseguidos da história do cinema, o X-Men 2, é verdade que as expectativas estariam muito elevadas. O Brian Singer depois de ter feito o The Usual Suspects, foi puxado para o projecto Marvel-bora-fazer-guito-à-custa-dos-x-men, que por acaso, deu um resultado bastante razoável, no primeiro, e no segundo, como já se disse, rebentou com tudo o que eram expectativas - boas ou más.
Coube o terceiro tomo ao Brett Ratner que vinha de uns filmes manhosos tipo Red Dragon e os Rush Hour, e que foi repescado depois do Singer ter feito um manguito à Marvel e ter-se mandado de cabeça, sem hesitações, para a DC para ir fazer o Superman (há quem ache as quecas e os collants um bocado gays), aqui a missão do Ratner já se revelava bastante penosa já que o Singer tinha pegado nos 2 primeiros filmes de uma forma muito peculiar, incutindo-lhes uma áurea tal que, se por um lado era bastante fiel, e do agrado dos fãs das bd´s, era por outro, bastante apetecível para os leigos no universo X-Men, se bem que o primeiro filme serviu um pouco como "know how e why" e por isso mesmo fica alguns pontos atrás do segundo que não necessitava de voltar a explicar tudo novamente. O primeiro foi a base para o segundo poder explodir em grande. O terceiro foi prejudicado pela troca de realizadores já em pleno processo de pré-produção que, apesar de ser uma boa adaptação do universo X-Men, perde a áurea que tinham os outros dois, neste não houve um equilíbrio são entre as relações dos personagens, a acção do filme, e a intriga. Perdeu a Marvel, e os fãs, que não tiveram nas suas expectativas uma resposta adequada por parte do filme.
Para a próxima, óh Singer, pegas num calendário e riscas os dias em ques estás ocupado a filmar o Wolvie e a gaja dele e o resto da malta mutante. Assim escusas de enterrar projectos que podiam ter sido "do belo" e foram "de merda" só para andares a filmar um gajo de collants e quecas a voar pela cidade.
p.s. - não tenho nada contra o Superman, até gosto dele, mas custa-me ver o Singer a sair dos X-Men.

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sábado, julho 08, 2006

Carros



Bendita a hora em que foi descoberto que um fio de níquel é condutor de energia, a partir daí houve uns tipos que aproveitaram tomadas, pegaram na micro-electrónica e começaram a bombardear o mercado com pc´s, que há 25 anos atrás não serviam para nada senão para mostrar aos amigos que se tinha poder de compra, até que apareceu um tipo com 20 anos que "já na alura era contra a pirataria" e pôs-se a escrever programinhas que depois veio dar origem ao ms-dos, e o posterior windows. Isso possibilitou que ambientes virtuais começassem a ser criados inteiramente no computador inclusivé começaram aí a aparecer umas doenças estranhas que fez com que a malta começasse a duvidar se o mundo é mesmo real, ou se é virtual, há 20 anos era o Tron, hoje o Matrix, e depois houve um visionário de seu nome Luquinhas (George Lucas para os insipientes) que fundou a ILM para criar os efeitos especiais para o primeiro, quarto, tomo da saga Star Wars, na altura recorrendo a tudo, incluíndo pasta de dentes, menos a computadores, mas que em 1979 decidiu abrir uma repartição para se dedicar ao estudo das potencialidades da informática para o desenvolvimento do cinema. Em 1986 vendeu o gabinete de informática, que depois veio a dar origem à Pixar.

O Toy Story continua a ser para mim o melhor filme que a Pixar já extrudiu daquela maquinaria cara como a nossa aqui na Bala Perdida, ou se calhar chega mesmo a ultrpassar a nossa, se bem que o Finding Nemo também tinha o seu encanto, tirando a parte inicial do filme em que a mãe do peixe morre, uma cena lamentávelmente trágica que deve ter deixado muito puto a chorar no cinema e a querer ir embora para olhar para os peixes que têm no aquário, que pelo menos estão calados e se morrem uns, não choram os outros, até que a Pixar arranja uns clones do Tino e começa a extrudir Carros a torto e a direito. Carros é realmente um filme à altura do Toy Story, o único senão e é aqui precisamente que perde para o segundo, é o facto de na versão portuguesa o Miguel Ângelo, o golfinho, não fazer a voz do personagem principal, no caso o Faísca McQueen. É pena. O filme é simplesmente genial. A caracterização/humanização que incutem ao que seriam à partida meros carros é completamente incrível, logo no 5º segundo do filme, as personagens deixam de ser carros, para passarem a ser humanas na maneira como agem, como se exprimem e como se relacionam. O trabalho que a Pixar investiu no desenvolvimento da animação/caracterização de cada carro/personagem é único, o que faz com que o filme ganhe uma dimensão dupla muito interessante, criando um ambiente relaxado que facilita e potencia os momentos de humor que acontecem ao longo de todo filme. A genialidade, porém, não se esgota por aqui, há que mencionar as referências a tudo o que se relaciona com cultura rodoviária, quase sempre americana, as corridas de Nascar, a Route 66, os muscle cars, e o próprio nome da personagem principal Lightning McQueen, Faísca McQueen em português, Relâmpago McQueen em braslieiro, parece uma alusão clara ao Steve McQueen, apaixonado por máquinas, se bem que a Pixar afirma que é uma homenagem a Glenn McQueen animador da Pixar que morreu em 2002. Depois há aquele factor que normalmente existe nos filmes da Disney, que quer se goste ou não, continua a levar a melhor sobre os rivais, que é dar a cada história um princípio moral, a tentativa de incutir ao filme valores que, parecem, andar desaparecidos.



O que me deixa louco de satisfação nos filmes da Pixar, são as referências aos próprios filmes, ou ao seu próprio universo que conta já com 20 anos, como por exemplo o numero do McQueen, 95, ano de lançamento do Toy Story, primeira longa metragem Pixar, os pneus dele são Lightyear Buzzard, uma alusão por um lado, aos pneus Goodyear e por outro ao Buzz Lightyear, o astronauta do Toy Story. Para terminar o filme, a Pixar abençoa-nos com cenas de filmes do Toy Story, Monsters Inc., e A Bug´s Life, tudo transformado em personagens em forma de carros. De fazer um gajo levantar-se e bater palmas. Verdadeiramente fabuloso.

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