bala perdida: novembro 2007

quinta-feira, novembro 22, 2007

Beowulf 3D


Hopkins conspira com Beowulf, em ambiente 3d, como gamar o ouro a Zemeckis

Robert Zemeckis, o criador da trilogia infanto-juvenil mais fixe dos anos 80, o Regresso ao Futuro, parece andar, nos tempos de hoje, distanciado de qualquer contacto mais íntimo com a realidade. Frequentemente Robert Zemeckis é visto nos arredores da sua casa a dialogar sozinho, e a questionar os degraus de acesso à piscina, como é que perdeu o jeito para a coisa. Desde já, fica uma palavra de amizade e de incentivo profissional para com o outrora quase genial, Zemeckis: deixa o cinema e dedica-te à pesca submarina.

Numa altura em que se fazem filmes de bradar aos céus, usando a tecnologia informática em prol de uma valorização qualitativa de um argumento, Sin City de Robert Rodriguez, 300 de Zack Snyder e, o inevitável Senhor dos Anéis de Peter Jackson, aparecem estas descontroladas maluqueiras cibernéticas de Zemeckis como Beowulf. Beowulf é basicamente um catálogo que serve para explorar, de uma forma bastante assumida, o potencial, ainda algo limitado, de uma forma diferente de consumir cinema: a tecnologia de visualização 3d (com o auxílio dos magníficos óculos de massa grossa à Woody Allen). De imediato há 3 questões fundamentais que se levantam, mais pertinentes ainda do que a questão da existência de Deus, ou do mau feitio de Scolari: “mas porquê chamar a isto um filme; porquê pagar 7 euros para o ver; e terá Zemeckis enlouquecido?”

No abstracto o filme tem praticamente todos os ingredientes para ser um bom produto cinematográfico, se nos alhearmos à partida que depende da projecção com efeito tri-dimensional, que apenas está disponível em alguns cinemas. A começar pelo enredo, que é baseado num poema histórico escrito por um desconhecido, mas que parece ter influenciado Tolkien na sua obra prima, passando pelos actores, Anthony Hopkins, Angelina Jolie, John Malkovich, e o menos conhecido, Ray Winston (papéis maioritariamente secundários como em Rei Artur e Cold Mountain), a acabar (e porque não) no próprio realizador (Zemeckis) que infelizmente, além de ser bastante provido na arte ancestral de caçar pardais, anda igualmente a perseguir o sonho de destruir o crédito adquirido em produções interessantíssimas como Quem Tramou Roger Rabbit?, Regresso ao Futuro e aquele que deveria ter sido o seu último filme, Forrest Gump.

À parte de tudo isto, existe a vontade avassaladora de Zemeckis em criar “algo novo” usando “tecnologias do futuro”. Zemeckis não sabe, mas o valor real de um filme não se baseia na quantidade de tecnologia usada para a sua produção, mas sim na coerência do produto final. Este infeliz Beowulf existe, apenas e só, para mostrar que é possível fazer um filme em 3 dimensões usando sensores corporais e pondo 1 milhão de gajos a trabalhar em texturas de pele humana que em cada centímetro quadrado têm mais pormenores do que o projecto de execução do Guggenheim de Bilbao. Todavia grande parte da população mundial que habita em países desenvolvidos, já viu o Senhor dos Anéis e a maravilha digital intitulada Gollum, e claro, os filmes da Pixar e da Dreamworks. Consequentemente é do domínio público que, sim, é possível fazer filmes extra-ordinários em 3d. Zemeckis é o único ser humano à face da terra que ainda desconhece este facto.

Para acabar, ficam aqui alguns conselhos de amigo, para o amigo Zemeckis:
1) Zemeckis, dedica-te à pesca submarina e, quando estiveres lá no fundo, experimenta tirar o tubo que liga aí à garrafa que tens às costas;
2) agora mais a sério,tiras umas férias em África, deixas o GPS em casa e aventuras-te numa travessia solitária ao Sahara, a pé, para mostrar que definitivamente és mesmo um gajo que gosta de “desafios”;
3) tenta atravessar os Estados Unidos pela Estrada 66, de Los Angeles até Nova Iorque de Smar
t, em contra-mão, enquanto lanças foguetes dentro do carro para comemorar os 25 anos da estreia do Back to The Future;
4) constrói um DeLorean e viaja até ao futuro, para verificares que, o que andas a fazer, mais cedo ou mais tarde, te vai atirar para o desemprego de vez; aproveitas e ficas por lá a divagar em Washigton onde, por essa altura, há um atentado de 4 em 4 segundos;
5) ou então esquece tudo o que está escrito atrás, e voltas a escrever outra trilogia, tipo Back to The Future, mas mais fixe ainda, e protagonizada pelo forever young, Michael J. Fox (mas deixas outro gajo realizar).

Zemeckis em 3 dimensões. 3000 mil anunos do M.I.T. trabalharam neste modelo digital durante 15 anos.



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segunda-feira, novembro 19, 2007

Blá, blá, blá Jesse James, blá, blá, blá, Robert Ford


Brad Pitt massaja a virilha, como é hábito, nos filmes que protagoniza.

Aproveitando a onda de "filmes passados algures no interior rural americano em data relativamente incerta" iniciada por Sr. Mari, é altura de pôr os olhos num dos filmes maravilha do Festival de Veneza de 2007, The Assassination of Jesse James by The Coward Robert Ford, protagonizado pelo Sr. Brad Pitt e pelo Sr. Casey Affleck (sim o apelido é esse que vocês estão a pensar e, por ventura, se a mãe não andou a enganar o pai, é realmente o irmão do Ben. o Ben que se aventurou na realização de um filme cujo enredo é muito semelhante à história do desaparecimento da pequena Maddie. diz-se se por aí que o próprio em pessoa Ben possa ter vindo ao Algarve e levado a menina, numa espécie de campanha macabra para promover o filme).

A grande surpresa é que o trailer é fixe e, basicamente, parece demonstrar a vontade do Pittzinho em voltar a fazer papéis dignos de referência, tipo papel canson, ou o famoso papel cavalinho. O Casey Affleck interpreta o Robert Ford, e diz-se que, além de matar o gajo (porque o filme chama-se assim, ou seja não me culpem a mim por já saberem o final, culpem o gajo que inventou o título do filme; aliás, isto era mais ou menos a mesma coisa que o Titanic se chamar "A Morte de Jack Afogado no Oceano Atlântico Porque a Kate Estava Entretida a Assoprar No Apito Para Chamar A Atenção Dos Barcos Salva-Vidas Porque O Titanic se Afundou Depois de Terem Tido Relações Sexuais Num Ford T") como eu estava a dizer, além de matar o gajo (ao que tudo indica, porque eu ainda não vi o filme) Casey Affleck promete nos próximos anos dar que falar, porque primeiro é irmão do Tio Ben, e depois porque se afirma cada vez mais como actor de referência - depois das aparições na saga Oceans, e ter passado uns anitos a levar com papéis que ficam ali entre o secundário e o figurante, nomedamente nos filmes do nosso grande amigo Gus Van Sant, tanto no Gerry, como no Last Days ou mesmo no longínquo Good Will Hunting (o Bom Rebelde, em português, para os mais desatentos), protagoniza agora o filme do Ben sobre a tal criança que é inspirado na Maddie (ou ao contrário, não sei e não interessa), intitulado Gone Baby Gone.

Em Veneza, Brad Pitt arrecadou o Leão de Ouro para o melhor Actor. Talvez este seja o ano em que, finalmente, possa arrecadar o óscar há muito merecido, desde que fez o 12 Monkeys, passando pelo Seven, acabando no Babel (afinal de contas, é sabido que conseguir levar a Jolie a pernoitar, dá direito a prémio).

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quarta-feira, novembro 07, 2007

There Will Be Blood



O filme novo do P.T. Anderson (não tem nada a ver com telefones), o gajo que pôs o Tommy Cruise a verter lágrimas em frente às câmaras no mega-épico Magnolia, já tem trailer. Chama-se There Will be Blood e estreia nos states por alturas da consoada. A narrativa baseia-se num romance de Upton Sinclair, Oil, sobre a exploração de petróleo nas Américas do início de 1900. Daniel-Day-Lewis volta a fazer uma pausa no seu emprego como sapateiro para protagonizar um filme em que mais uma vez é o mauzão de serviço e onde promete assustar muitas pessoas com o seu bigode e voz cavernosa. O puto mudo do Little Miss Sunshine é o jovem líder de um culto religioso meio satânico (e fã das igrejas desenhadas pelo Tadao Ando, como o olhar treinado do arquitecto certamente notará no trailer). De outro quadrante chega o guitarras dos Radiohead, Jonny Greenwood, para escrever a partitura que acompanha todas estas bonitas imagens e de que se fornece uma pequena amostra.



O trailer (como decerto terão reparado) é tão infinitamente bom e promete um filme tão bestialmente extraordinariamente fixe-a-délico que até dá vontade, depois de enxugar a lágrima ao canto do olho, de telefonar para o senhor P.T. (pleonasmo) a ver se ele nos envia uma cópia de pré-visualização do filme, talvez simulando a voz sexy do Mário Augusto, esse grande maluco, não sei. Ou prometendo oferecer-lhe uma t-shirt dos Universal Studios em troca.


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terça-feira, novembro 06, 2007

El Orfanato


O papel de parede de El Orfanato é especialmente bonito.

De viagem à capital do país vizinho, é impossível não ter indícios de depressão com a quantidade absurda de cinema que passa ao lado deste paízola ridículo que fica entalado entre o Atlântico e Espanha. Actualmente existem três tópicos que dominam a actualidade noticiosa espanhola, a ver:

.a possível (e inevitável) rescisão de Fernando Alonso com a McLaren;
.a controversa viagem a Ceuta da família real;
.a primeira longa metragem de Juan António Bayona.

El Orfanato é a primeira longa metragem de Bayona e tem uma temática muito próxima do The Others, realizado por Alejandro Amenábar. O enredo baseia-se numa mudança para uma misteriosa choupana gigantesca que range à noite, por parte de uma família algo invulgar – um pouco à semelhança do que acontece com o nosso Coisa Ruim do Frederico Serra e do Tiago-irmão-do-bicho-que-apresenta-o-jornal-da-noite-Guedes. Depois o filme utiliza uma linguagem algo americanizada, mas que funciona na perfeição, para induzir calafrios e, basicamente, medo. Medo daquele que desencadeia acções involuntárias ao nível do intestino grosso a alguns espectadores.

A esta linguagem extraída de produtos americanos, Bayona injecta conteúdo inteligentemente trabalhado, ou seja, não usa o suspense de forma absurda apenas para criar o medo. Usa sim as ferramentas que lhe permitem criar ambiente inóspitos para enfatizar sensações, de medo e terror, baseados em sentimentos humanos primários. A relação entre a mulher (Belén Rueda, em Espanha o delírio é tanto que já se fala nela para o óscar) e o seu filho, é a principal desencadeadora da avalanche e, à semelhança do que acontecera no The Others, o simples posicionamento de crianças em casas duvidosamente perigosas é, já por si, um motivo para se entrar na sala com cócegas no estômago.


Brincadeirinhas inofensivas, à noite, numa casa assombrada.

O Guillermo Del Toro é o produtor deste fora-de-série e, depois do sucesso relativo do Labirinto do Fauno na última edição dos óscares (ganhou 3 dos 6 óscares para que estava nomeado, mas perdeu o prémio de melhor filme estrangeiro para o The Lives of Others), prepara-se este ano para, quiçá, arrecadar o anão de ouro que lhe fugiu o ano passado, já que El Orfanato é o pré-candidato espanhol aos óscares 2008. Resta saber de que forma uma Academia conservadora, como a americana, encara a vinda de um filme de terror oriundo de Espanha, mas cujo envolucro parece saído de um dos estúdios da costa californiana.

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