bala perdida: junho 2006

terça-feira, junho 27, 2006

100 Deus


O Mari tem toda a razão, quando no seu post bradava aos céus que este blog foi criado, em primeira instância, para manter informados os fãs, colaboradores e, até mesmo nós, elementos da video-trindade conimbrisense, do que se andava a passar no seio, não sei porquê mas esta palavra agrada-me bastante, dizia eu, no seio, e esta palavra agrada-me bastante e não foi um erro dei-me ao trabalho de escrever isto duas vezes por razões óbvias, da produtora mais promissora de Coimbra, Portugal, Europa, Mundo, Sistema Solar, Via Láctea, Universo, e tudo o que Deus se deu ao trabalho de criar para além disso mas ninguém ainda decobriu, nem com telescópios do tamanho de elefantes nem com sondas que demoram 10 anos a chegar sabe lá Deus onde, porque Deus sabe tudo, porém o certo é que temos faltado à nossa propria motivação de dar a conhecer aos outros, e a nós proprios, o que se vai passando na BALA PERDIDA.

Por outro lado o blog ganhou esta autonomia de ser um objecto orgânico que cresce ao ritmo destes três marmanjos que acreditam que qualquer dia ainda podemos dar-nos ao luxo de tratar o Fincher por tu, mas claro que isto é tudo uma questão muito estúpida porque na Lingua Universal, o inglês, nem há distinção entre a 2ª pessoa do singular e a 2ª pessoa do plural, por isso vou é lutar para que a Lingua Universal, seja a portuguesa, ou então não, e concentro-me apenas em continuar o que estava a escrever. É melhor. O blog acaba por ser uma extensão de nós mesmos, ou de personagens que queremos encarnar, ou de coisas que nos apetece dizer mas que não fazem sentido em discurso verbal, como isto, por isso escreve-se, bem diga-se de passagem, e começa-se a descortinar uma linguagem, um penedo de onde se pode gritar bastante alto, tão alto que até Deus é gajo de ouvir, e manifestar uma opinião construir uma crítica e dar espaço ao debate, quase sempre, relacionado com o cinema que é em última instância a nossa meta, ou pelo menos é o que diz no site da BP.

Como já nem sei o que estou a dizer, porque isto de escrever é "tipo entrar em transe", como diria o Boss Ac, já nem me dou ao trabalho de ler o que está para cima, e limito-me a dizer que o Blog está vivinho da Silva, e daqui a um par de meses faz um ano, que mesmo sem ter consultado os outros elementos da produtora, vai servir como aniversário comemorativo tanto do blog, como da própria Bala Perdida. Vai haver festão por isso preparem a coca e o whiskey. Tragam primas.

No dia 5 de Setembro de 2005 às 22:10 o primeiro post nasceu, dado à luz pela "bala perdida" em pessoa, se é que ela existe, e até teve direito a comentários. O segundo foi no dia a seguir e tem a primeira imagem publicada online com o selo BP. A partir daí foi sempre a disfrutar a escrever posts que receberam já o estatuto de míticos como "tino i seu horse 3d", "procura-se desaparecido", "pequeno post-it", "a neuza", "nudeza feminina", "vida agridoce", "não me lynches, ó david", "star wars" recordista no número de comentários (18), e claro, o post mais popular do blog o "100 contos". Lido assim até parece o título de uma música do Rui Veloso daquelas 80´s, tipo chico fininho.

quinta-feira, junho 22, 2006

NEU! NU onliNE!



Ultimamente a lista de prioridades dos conteúdos deste blogue tem andado um bocado às avessas, já que a razão primeira da criação deste espaço tinha a ver com a divulgação "em tempo real" dos projectos que se vão realizando (por agora, nos intervalos entre um e outro jogo de bola na TV). Em lugar disso, vão-se multiplicando textos sobre os mais variados assuntos (a maior parte, julgo, não terá mesmo assunto nenhum), que sem este blogue nunca teriam oportunidade para abandonar as nossas mentes torturadas e poluir o espaço cibernético com a sua indulgência auto-satisfatória.
Justamente por causa disso, é necessário reportar que vamos conseguindo sobreviver ao mundial de futebol e até fizemos (ou, o jone fez, pelo menos 98,2% do trabalho é dele) um site bem catita e vivaço para a revista mais fixe de arquitectura e cultura urbana do universo, do planeta terra, de portugal, de coimbra ou do darq, como preferirem (não queremos induzir o pessoal em engano, por isso façam o favor de comprar, ler e fazer as opções de posicionamento da NU na vossa escala de afectos).
De qualquer maneira, queiram, por favor, rumar ao site, seguindo o link REVISTA NU, na barra mais à vossa direita, ou então cliquem aqui. Fat props pro ppl da magazine que já se tornou um (o?) ícone do dARQ (substituindo o farol como referência mitológica).

sexta-feira, junho 16, 2006

Rebuçado Fora de Prazo



Olhando para o mísero panorama de filmes programados pela mui grande Lusomundo para a sua dezena de salas no centro comercial aqui do burgo, a tentação é comprar um pack mega balde de pipoca mais suminho, apanhar o bus até ao Avenida, alugar a filmografia completa do bruce willis e passar uma bela tarde no sofá a reviver belos momentos de infância, acompanhados de uma banda sonora composta exclusivamente de tiros, explosões, rajadas de ak-47, mais tiros, pneus a derrapar e mais explosões e tiros (de vez em quando há um soundbyte logo a seguir ao bruce cortar a cabeça a um tipo,ou partir-lhe o braço só com um golpe, ou enquanto coça o rabo). Ou, em alternativa, pesquisar pela net trailers filmes de acção dos anos 80 (daqueles que só saíam em vhs directo para aluguer - ninja americano I ao IV; a saga kickboxer; todos os da primeira fase da carreira do dolph lundgren, tirando o he-man e os masters do universo; etc).
Sabe-se lá porquê, decidi-me a fazer o oposto e arriscar uma ida ao cinema para ver "Hard Candy", algo intrigado pelo cartaz (catita!) que promovia o filme. Como já sabia antes de entrar, o plot tinha algo a ver com uma míuda (supostamente) inocente que seduzia um (suposto) pedófilo e depois as coisas começavam a tomar um rumo (supostamente) menos óbvio. Sim, à distância podia-se sentir já um odor a argumento-pseudo-inteligente-assim-do-género-do-saw, muito na moda nas américas por estas alturas. Mesmo assim, como sou um gajo sem preconceitos - apesar de alimentar a secreta esperança de um dia entrar na opus dei - dispus-me a refastelar-me na cadeira e apreciar o filme.
Até começa bem: belo e simples genérico com acompanhamento sonoro minimal, que introduz uma conversa, no ecrã de um chatroom, entre a presa e o caçador (ou viceversa). Encontram-se num café e começam a flirtar, ou lá o que isso quer dizer. Os diálogos iniciais estão bem escritos (ao contrário de outros de uma recente curta-metragem portuguesa, filmada no final do Verão passado e que vai ser remontada e re-sonorizada em breve) e os dois protagonistas parecem saber muito bem o que estão a fazer - especialmente a rapariga, que consegue transmitir uma ambiguidade muito subtil na maneira como seduz um gajo que é vinte anos mais velho. Estranha-se que o filme entre assim de rompante, sem meias medidas, nem construção de ambiente, nem backgrounds das personagens. Parece que o realizador tem pressa em chegar não se sabe aonde. Quando eles deixam o café e rumam a casa do gajo, que é fotógrafo de profissão, percebe-se a razão para tanta correria: o filme decorre exclusivamente dentro dessa casa.
É a partir desta altura (portanto, logo após os primeiros 15 minutos) que a coisa começa a descambar, culminando num desastre ao nível do naufrágio desse navio (falha-me o nome, de momento) que protagonizou um documentário de 7 horas (pareceram-me) realizado pelo james cameron e protagonizado pelo leo-enterra-o-martin-scorsese-di caprio. A miúda afinal não é o que aparenta (um bocado óbvia a metáfora do casaco de capuz à capuchinho vermelho - como vêem isto é mesmo material ao nível do saw) e começa a torturar o coitado do pedófilo, não porque a chavala curta mesmo a onda SM, mas porque há um esquema de vingança diabólico a cumprir (que é revelado no fim), baseado numa treta inventada à pressão que o argumentista arranjou porque as filmagens já iam começar e ele também tinha que entregar um script para o rush hour 4 e o guião dos 24 episódios da 8a série do dharma & greg. Digamos que a tortura principal aqui é a que o filme exerce sobre os pobres diabos que pagaram 4 euros pela sessão, aumentando exponencialmente cada vez que a menina abre a boca para entaramelar um discurso algures entre o feminismo, o cinismo e a rebeldia teen, que nos incita a torcer para que o pedófilo se consiga soltar das cordas e lhe aplique umas boas estaladas na cara (atenção!tudo sem laivos de sexualidade, que eu sou um homem de família) para ela calar a matraca.
De destacar também, o estilo visual mais irritante dos últimos tempos: cada vez que há uma cena com mais acção, entra em campo o "cameraman-mãos-de-gelatina", a coisa treme tanto que não se consegue distinguir nada (se calhar é um ponto positivo, então). As cores são tão saturadas que julgamos que, enquanto a acção decorre, um incêndio de proporções épicas lavra em torno da casa. Com o aproximar do fim e o consequente aumento dos bocejos na audiência, já não há a mínima pachorra para tentar apanhar o que quer que se esteja a passar no desfecho, mesmo que viessem seres do espaço num disco voador, com a forma do palácio do escorial, para teletransportar a casa para o último planeta da galáxia onde vivem o thor e os deuses nórdicos e tudo isto fosse afinal uma realidade alternativa criada pelo planeta solaris, ninguém quer saber, tanto se lhe dá. Para simplificar, a coerência narrativa do filme assemelha-se a um prato de chanfana: cheira mal, tem mau aspecto antes de se provar e depois de se provar também não é lá grande coisa.
Para concluir: rebuçados há muitos, mas os únicos de jeito são os Flocos de Neve.
Encerro o meu capítulo sobre metáforas culinárias por aqui.
(a foto dos flocos foi sacada - sem permissão, peço desculpa - do blogue Blues Por Um Interno)

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terça-feira, junho 06, 2006

24 Filth and Fury Party

Numa altura que está confirmada a vinda de uma das lendas vivas do período pós anarca-punk-sex-pistols-fuck-you-and-fuck-the-future, a terras lusitanas, por um lado, encantar o coração de jovens adolescentes, e por outro, reviver ritmos cardíacos a adultos que nos anos 80 desconheciam que cavalo também era nome de animal, é motivo de regozijo harmónico e meditação profunda até ao dia do concerto que será algures nos meados de Agosto. O mito dá pelo nome de Morrissey e despedaçou o coração a metade dos adolescentes que ouviam Os Smiths, quando afirmou que era gay, a outra metade não se importou e continuou fiel ao culto da sonoridade smithiana, isto ainda eu e a malta da minha geração andávamos a pintar as paredes, a cara, a roupa, a cara dos pais e os bancos do carro, no caso de haver automóvel, com lápis de cera.

De qualquer das formas achei deveras interessante a visita do homem a Portugal e lembrei-me de um par de filmes que ajudam a compreender o panorama musical inglês entre a década de 70 e 80. Um foi realizado pelo Michael Winterbottom, cuidado para não haver confusões com o David Attenborough o tipo da BBC que andava na selva à procura de animais para ter relações sexuais ou seria para filmar, não me lembro bem, e intitula-se 24 Hour Party Peole, data de 2002 e é um fenómeno da realização espontânea, que cruza uma componente documental com a ficção, um formato que não é muito comum mas que resulta de uma forma tremendamente brilhante neste filme. A história passa-se em Manchester e começa com um tipo chamado Tony Wilson, magnificamente interpretado pelo Steve Coogan, um pequeno produtor, indie, de música que apresenta um programa na tv, e que acompanha o nascimento dos Sex Pistols, o movimento pós-punk dos Joy Division, a morte do Ian Curtis e a consequente transformação nos New Order, culminando no aparecimento da figura do D.J. que nasce, segundo o filme e a visão do gajo que vai narrando a história, num espaço industrial, no intervalo de um concerto, em que alguém passa música com vinis e as pessoas correspondem, dançando, idolatrando não um conjunto de músicos que habitualmente fazem uma performance ao vivo, mas sim uma única pessoa que com discos cria uma sonoridade, se bem que agora há aí um tipo em Coimbra que também cria sonoridades sozinho, mas em vez de se limitar a trocar vinis, toca 30 instrumentos de uma só vez, não me perguntem como porque eu nunca tive o prazer de o ver a tocar sozinho, o Legendary Tiger Man.

O outro filme dá pelo nome de The Filth and The Fury, e este sim é um documentário que obedece a moldes tradicionais, sobre os Sex Pistols, que ilustra com vídeos da época e depoimentos recentes, nomeadamente do Johnny Rotten, o carismático vocalista que encabeçava o espírito niilista e anárquico dos Pistolas do Sexo, o percurso da banda desde a sua formação, com recursos muito inteligentes, nomeadamente o enquadramento político-social e económico que se vivia em Inglaterra nos finais da década de 70, o aparecimento da onda punk, que também desabrochava noutros sítios, designadamente em Nova Iorque com os New York Dolls ou Os Ramones, o filme concentra-se em tentar explicar como foram as relações entre os elementos da banda, passando pela integração difícil e tardia do Sid Vicious, a relação ingénua com o manager, a onde que se gerou a favor e contra o movimento da banda, passando pela digressão americana, incompreendida e desenquadrada, terminando na desagregação do grupo.

Dois exemplares brutais do bom cinema que se faz sobre música por aí fora. Felizmente houve alguém que se lembrou de fazer um documentário sobre Os Smiths, intitulado “Inside The Smits”, que tem estreia agendada para o verão de 2006, produzido por uma pequena produtora independente de Manchester de nome TiB Street Films, fico então à espera que haja alguém neste país que se lembre de trazer o filme para terras nacionais brevemente.

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