Como já há bastante tempo que não se escreve neste sítio cibernético sobre cinema, o 300 é um bom exercício para se voltar a reflectir sobre o que é, ou não, um bom filme. Primeiro é bom referir, aos mais desatentos, que é uma adaptação de um álbum de banda desenhada – ou de uma graphic novel, ou o lá o queiram chamar aquilo, o facto é que tem quadrados e desenhos de grande qualidade impressos nas páginas, por isso, um catálogo do jumbo é que não é – desenhada pelo Frank Miller, já conhecido a nível planetário, por ter permitido ao Robert Rodriguez, depois de muito esforço, adaptar a sua saga semi-apocalíptica urbana, Sin City, também para cinema. O 300 teve a capacidade de dividir o grande público em duas facções bem distintas. A primeira conjuga os fãs que já conheciam a obra do Mestre Miller que ficaram seguramente deliciados com a adaptação, com os que foram apenas por curiosidade, e ficaram deslumbrados com o poder visual do filme. A facção descontente sente-se ultrajada por considerar que a narrativa do filme não é suficientemente profunda.
Considerando que um filme é a conjugação de vários factores e disciplinas, o importante é que o produto final que transparece na tela, seja um desencadeador de emoções, ou que faça pensar, que obrigue a reflectir ou que seja apenas um filme. E este tipo de raciocínio iria inevitavelmente conduzir-nos a um conversa acerca do propósito da arte, ou o que é a arte. Não querendo entrar por aí, o que é certo é que, se há alguma coisa que a arte pós moderna trouxe, foi precisamente isto, para o bem ou para o mal, não é preciso ser artista para produzir arte, nem sequer é necessário, ter uma mensagem para transmitir. Qualquer coisa pode ser arte, nem que seja, por exemplo, extraída do intestino do Andy Warhol. O que até tem o seu lado positivo, já que legitimiza toda a merda que se anda a fazer por aí, e se chama arquitectura. Voltando ao 300, o filme que não quer apenas ser (mais) um, é impossível não ficar deslumbrado com a qualidade visual do produto. E mais importante do que isso, cumpre com uma precisão notável aquilo a que se propõe – ser uma adaptação de uma obra do Miller para o cinema. O Zack Snyder revela um brilhantismo impressionante porque, se é verdade que o argumento não é tão extenso como propriamente a História Interminável, porque dura apenas 2 horas, então diria que o gajo é bastante dotado já que conseguiu fazer um bom filme, cuja história se resume apenas numa frase.
O filme, como já disse, é uma boa adaptação para o cinema da obra do Miller, porque transporta o ambiente no qual a original é narrada. As cenas de acção do filme são fabulosas, assim como todos os cenários, que foram integralmente criados em ambientes tridimensionais (todas as cenas foram filmadas em green screen). Para quem é fã de b.d. ou gosta de filmes de acção, o 300 é um objecto delicioso. Para quem acha que o cinema é apenas Wim Wenders e Teresa Villaverde, mais vale não irem ver o filme – juntam-se à lareira e fumam cachimbo a ver o Vale Abraão.
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